Surgiu a ideia de se utilizar o nome Bluetooth

Confira a trajetória de uma tecnologia que conquistou o mundo e, hoje, se estende a vários tipos de dispositivos

Por Roberto Blatt Fotos Shutterstock.com

Era uma vez um rei na Dinamarca que viveu há pouco mais de mil anos, de nome Harald Blåtand Gormsen. Blåtand (“dente azul”, ou bluetooth, em inglês) vem do fato de que ele tinha os dentes estragados e que, por isso, eram de cor preta com tom azulado. Detalhes estéticos e sanitários à parte, ele foi importantíssimo para a história do país, pois unificou sua nação com os reinos vizinhos da Noruega e Suécia e tornou o cristianismo a religião da Escandinávia. Ele também deu nome a uma das mais importantes tecnologias de propagação de ondas de rádio hoje em dia: o Bluetooth.

O SÍMBOLO E A TECNOLOGIA

A indústria das telecomunicações desejava criar um padrão de comunicação sem fio que servisse como um padrão, uma unificação de tecnologias que lidavam com setores como computação, telefonia móvel e mercado automotivo, cada uma com seus acessórios. Então, surgiu a ideia de se utilizar o nome Bluetooth, em homenagem ao rei unificador, e o seu desenho é uma combinação das runas (caracteres das línguas germânicas do norte à época do rei) que representam as iniciais de como é conhecido Harald, HB.

NASCIMENTO

O Bluetooth nasceu em 1994, inicialmente com a empresa de dispositivos de comunicação sueca Ericsson, que trabalhou em cima de uma tecnologia de curto alcance que já vinha sendo estudada na empresa desde 1989, para ser uma tecnologia para as PAN (Personal Area Network, “redes de área pessoal”), redes sem fio de curto alcance destinadas à conexão de pares de objetos próximos.

A ideia básica era conectar fones de ouvido com uma tecnologia com baixo consumo de energia e de baixo custo, o que, depois, foi sendo estendido a diversos tipos de dispositivos. Aos poucos, foram se juntando à Ericsson outras grandes empresas de tecnologia, como, IBM, Intel, Nokia, Sony e Toshiba, e assim nasceu o Bluetooth Special Interest Group, organização sem fins lucrativos que trabalha apenas no desenvolvimento da tecnologia, publicando especificações e administrando a qualificação para o programa, de modo que se universalize e se mantenha padronizado.

UMA CONVERSA EDUCADA

Quem já usou comunicação Bluetooth entre, por exemplo, celular e um fone de ouvido, percebeu que a comunicação se estabelece em três etapas: ao se ativar o Bluetooth no celular, ele entra no modo de descobrimento, localizando dispositivos Bluetooth ao redor.

Uma vez descobertos os dispositivos, a comunicação entre eles se faz por meio do emparelhamento, momento em que os dispositivos trocam entre si chaves de segurança, para que a conversação ocorra apenas entre aquele par de dispositivos e de forma segura. No caso de fones de ouvido, eles não precisam autorizar a conexão, é apenas o celular que precisa. A seguir, começa a comunicação entre os dispositivos, como, por exemplo, a transferência de músicas ou áudio de noticiários do celular para o fone de ouvido.

A tecnologia Bluetooth requer efetivamente pouca potência, na faixa de poucos miliwatts, e trabalha normalmente em um entorno de poucas dezenas de metros, o que depende, entre outros, da existência de obstáculos como móveis e paredes. E trabalha com ondas de rádio na faixa do UHF, mais particularmente em torno dos 2,4GHz.

EVOLUÇÃO

A tecnologia começou na versão Bluetooth 1.0-1.2, em 1999, com uma transmissão (largura de banda) a 732,2Kbps (quilobits por segundo) e alcançando até 10 metros. Essa largura de banda era insuficiente para comunicações de áudio com alta qualidade, sendo utilizada mais para comunicações de voz, não música.

Entre 2005 e 2007, surgiram as versões 2.0 e 2.1. Em particular, essa última versão permitia uma conexão mais simples, melhorando a experiência do usuário quando do pareamento, trazia embutida mais segurança e chegava a 3Mbps e 30 metros de alcance. Mas a qualidade da transmissão do som ainda ficava devendo.

Quatro anos depois, surgiu a versão 3.0, que alcançava 24 metros, permitia mais segurança na conexão, mas que, em contrapartida, consumia mais energia, ao permitir que a comunicação entre o fone e o celular, por exemplo, não fosse perdida ao se colocar o celular no bolso de uma calça. Esse consumo mais elevado não agradou muito aos fabricantes.

No ano seguinte, surgiram as versões 4.0, chamada de Bluetooth Smart, com seu protocolo Bluetooth Low Energy, o BLE, e foi nesse momento que os chamados vestíveis, como relógios inteligentes, passaram a se comunicar pelo Bluetooth. A versão 4.2 permitiu se trabalhar com dispositivos IoT (Internet das Coisas), inclusive por suas características de segurança; já dava para se pensar em conectar as chamadas Casas Inteligentes.

Em 2016, surgiu a classe 5 (de 5.0 ao recente 5.4, de fevereiro de 2023), com aumento da taxa (velocidade) de transferência de dados e sem perda de qualidade, além da conexão de um dispositivo de áudio a mais de um fone de ouvido ou caixa Bluetooth simultaneamente e da redução de interferências.

USOS

A tecnologia pode ser encontrada em celulares (permitindo, também, a troca de arquivos entre eles), fones de ouvido, notebooks e PCs, painéis de automóveis (permitindo comunicação hands-free e reprodução do som do celular), smartwatches, teclados e mouses, televisores e ares-condicionados, tags de rastreamento (de carteiras e chaves, por exemplo), fechaduras, eletrodomésticos e outros dispositivos da Casa Inteligente. É apenas uma questão de se pensar em novos usos. A tecnologia permite. Obrigado, Rei Harald!

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