Que áudio é melhor? Estéreo ou o multicanal?
Texto: Fernando Ramos
Imagens: Divulgação
É sempre assim: quando se opina sobre áudio, alguém discorda de você. É mais ou menos como discutir religião – alguém sempre dirá que aquilo é improvável. O mais interessante, na atualidade, é saber olhar para trás e verificar que nem sempre o improvável é impossível; mas, quase sempre, o que é impossível é improvável. A partir daí, concluímos que discussões como: “que áudio é melhor, o estéreo ou o multicanal?” são muito cansativas e não levam a lugar algum.
Há pouco, li uma entrevista com um “dinossauro do áudio” (alguém que se acha um especialista do áudio, mas que, na verdade, tem dificuldades para diferenciar o som da antiga fita cassete do Blu-ray) dizer que o áudio estéreo é melhor e que, no multicanal, tudo se mistura.
Caro leitor: exercendo meu direito constitucional de discordar, já que os canais são separados, como podem se misturar? Mas que contradição, não? O fato é que opinião é opinião e qualquer um pode ter a sua. Mesmo sem ter a menor ideia do que diz.
Neste caso, por exemplo, apesar de muitos discordarem, nas gravações que escuto, em 95% dos casos, prefiro o multicanal exatamente por achar que o preenchimento do ambiente proporcionado pela separação dos canais faz toda a diferença (e me agrada mais). A beleza da questão é esta: o que é bom para mim nem sempre é bom para você. E o fato de pessoalmente preferir o multicanal não significa que isto seja uma regra básica de audiofilia, apenas que tenho uma opinião diferente sobre o assunto.
O áudio de alta resolução é alcançado no ambiente doméstico, algo impensável há algumas décadas. No entanto, apesar dos avanços, não há consenso de qualidade entre formatos. É impressionante: ouço programas contendo áudio de alta resolução e fico de queixo caído com a qualidade e a nitidez alcançadas. Estes programas estão por aí, disseminados na forma de downloads, DVD e Blu-ray. No entanto, a discussão sobre a superioridade ou o desprezo a certos formatos continua e não esclarece nenhum aspecto técnico relevante.
Grande parte da culpa, creio eu, é da própria tecnologia, que confunde todo mundo, até os mais experientes. Nas discussões, fala-se muito em precisão, quando se deveria falar em qualidade (que é a representação de valores reais). Afinal: se existe alguma coisa que pode até ser precisa, mas raramente é exata, é a captura do sinal analógico de áudio pelos microfones. Na prática, isto significa o seguinte: a maioria das pessoas considera “uma boa gravação” a captura do som ambiente com a menor quantidade possível de erros. E não seria por outra razão que os pesquisadores de áudio do passado se detiveram em estudar os microfones de forma exata e minimalista.
Ao menos em tese, quando uma gravação não é boa, não será a mídia (discos, arquivos etc.) que fará qualquer diferença durante a reprodução. Por melhor que sejam suas caixas e seus amplificadores, por exemplo, se a gravação for ruim, os equipamentos não farão milagres. Então, afinal, o que se espera de uma boa mídia? Que ela não limite a reprodução do que vem da fonte. E neste particular, as limitações mais drásticas são as da mídia analógica, por conta das inúmeras etapas de transdução de energia.
Fato é que, em mídia digital, duas situações devem ser contempladas: a gravação propriamente dita e sua reprodução. E nenhuma das duas é excludente. Ou pior: não têm, necessariamente, correlação entre si.