Formo micro-ondas uma invenção memorável.

Saiba como nasceu e evoluiu um velho conhecido da humanidade: o forno de micro-ondas, presente na maioria dos lares do planeta

O ano é 1945. Percy Spencer está parado ao lado do tubo de um equipamento de radar na fábrica da Raytheon e saca do bolso sua inseparável barrinha de manteiga de amendoim. Para sua surpresa, ela está derretida.

PERCY SPENCER

Homem de origem humilde, Spencer nunca tivera oportunidade de se aprofundar nos estudos – órfão de pai quando mal começava a falar, entregue pela mãe aos tios ainda na infância, ele abandonou a escola depois de poucos anos, para trabalhar dia e noite no chão de fábrica.

Mas ele era um ávido leitor e, dotado de curiosidade infinita, aprendeu por conta própria o ofício de eletricista – leu, tentou e errou até acertar –, estudou química, física, matemática, radiocomunicação e, em 1939, era um dos maiores especialistas mundiais no projeto de tubos de radar. E o radar viria a se tornar um dos equipamentos tecnológicos mais importantes utilizados na Segunda Guerra Mundial.

O SURGIMENTO DO FORNO

Spencer não foi o primeiro a perceber os efeitos das micro-ondas emitidas pelo tubo do radar. Mas ele foi o primeiro a investigar em profundidade o que se passa. E o primeiro a estourar milho de pipoca sob a influência destas ondas. E, depois, um ovo. Daí a cercar o tubo emissor de ondas com uma caixa metálica para impedir que as ondas emitidas pelo tubo escapem foi um passo… E assim, nasceu o forno de micro-ondas. 

As versões da história variam e pode ser que nenhuma delas retrate exatamente o que ocorreu, mas, considerando o espírito de Percy Spencer, é bem plausível que o forno de micro-ondas tenha nascido assim mesmo – observação, inquietação, pesquisas e mais pesquisas, imaginação e finalmente a criação.  

O saldo da história foi o primeiro aparelho com destinação comercial, dois anos depois, com quase dois metros de altura, cerca de 350kg e custo aproximado em valores atuais de 70 mil dólares. Uma pechincha… E que podia (mesmo?) ser acomodada em qualquer cozinha. Mas, 20 anos depois, uma subsidiária da mesma Raytheon dos radares produzia um aparelho de tamanho razoável e preço quinze vezes menor.  

Hoje, o forno de micro-ondas está presente em mais de 90% dos lares americanos – e os números brasileiros seguem a mesma tendência.

MAGNÉTRON

Assim como o radar, o forno de micro-ondas é dotado de uma grande válvula, o magnétron, que tem um filamento que é aquecido quando o equipamento é conectado à rede elétrica e se aperta a tecla de acionamento do forno. O filamento aquecido passa a liberar elétrons (que são cargas elétricas negativas), e esses elétrons são acelerados rapidamente por um campo elétrico. Uma vez acelerados, os elétrons passam por um campo magnético forte (como se fosse um ímã potente) e esse campo faz os elétrons mudarem de direção a todo momento.

Por fim, essas mudanças constantes da direção dos elétrons fazem com que eles emitam energia – e essa energia sai em forma de micro-ondas.

MICRO-ONDAS

As micro-ondas, assim como as ondas das rádios AM, FM, TV, celulares, Wi-Fi, GPS e as de comunicação por satélite são chamadas ondas do espectro de radiofrequência. O que varia entre as ondas desse espectro é o quanto elas oscilam por segundo. Ou, analogamente, o que as distingue é a distância entre suas cristas – seria algo como ter ondas no mar com intervalos maiores ou menores entre si.

As micro-ondas têm frequências muito maiores do que as ondas de rádio tradicionais, ou seja, a distância entre suas cristas é muito menor do que no caso das ondas de rádio, o que quer dizer que elas oscilam mais rapidamente.

COZINHANDO COM O MICRO-ONDAS

As micro-ondas emitidas pelo magnétron penetram nos alimentos e fazem vibrar muito rapidamente as moléculas de água dentro deles (na realidade, principalmente as de água, mas também as de gorduras e açúcares), e as moléculas vao colidindo umas com as outras, o que aquece o alimento e, assim, esses alimentos são cozinhados.  

Em outas palavras, as micro-ondas não são uma forma de energia térmica (calor), mas provocam agitação nas moléculas de água (e gorduras e açúcares) dos alimentos, e isso é que gera calor.

E por que se recomenda não colocar utensilios de metal no forno? Isso ocorre porque as micro-ondas não atravessam os metais e acabam sendo refletidas por eles, o que pode provocar correntes elétricas no metal, faíscas e superaquecimento.

Uma dúvida recorrente é se as micro-ondas não podem vazar pelos furos da tela metálica que recobre internamente a porta do micro-ondas. Se, por um lado, a tela precisa dos furos para permitir se ver dentro do forno, por outro, os furos são de tamanho tal que são muito menores que o comprimento de onda das micro-ondas e, assim, elas não conseguem passar por esses furos.

MENTE GENIAL

Quanto ao inventivo Percy Spencer, ele não recebeu royalties pela invenção do forno de micro-ondas, nem pelas 300 patentes obtidas em sua prolífica carreira, a não ser uma quantia simbólica, a mesma dada a todos inventores na folha de pagamento da Raytheon à época. Mas o Spencer Building, no campus de Massassuchetts da Rayheon, rende homenagem a esse autodidata de mente genial.

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