CASA INTELIGENTE: TER OU NÃO TER?
CASA INTELIGENTE: TER OU NÃO TER?

Novas tecnologias não param de surgir. Mas como devemos nos comportar em relação a elas?

Quando se fala em “casas inteligentes” e “internet das coisas”, os especialistas levantam uma série de questões que nos deixam perdidos neste “admirável mundo novo”. Até por desconhecimento de causa, ficamos na dúvida entre sermos “normais” e ignorarmos o assunto ou bancarmos os “malucos” e investirmos nesta “perigosa’ tecnologia.

Na realidade, quais são as preocupações? A lista inclui: segurança, privacidade, confiabilidade, complexidade e custo. A seguir analisaremos cada uma delas. Mas, antes, vamos entender melhor o que envolve uma casa inteligente.

CATEGORIAS

Uma casa inteligente, na realidade, é um conjunto de dispositivos distribuídos em sua residência que se enquadram em uma de duas categorias: ou são equipamentos concebidos para trazerem novas funções ou são equipamentos normais que incluem novas funcionalidades, não usuais à sua função básica. Uma câmera inteligente que detecta rostos e lhe diz quem está à porta por meio do celular se enquadra na primeira categoria. Por outro lado, uma geladeira que o avisa quando um determinado produto acaba ou está vencido pertence à segunda categoria.

Em ambos os casos, esses benefícios tecnológicos demandam uma capacidade de processamento que não caberia no próprio dispositivo e que, por isso, dependem de capacidade computacional na chamada Nuvem (computadores disponíveis na Internet, oferecidos como um serviço). Para que estes equipamentos consigam chegar à Nuvem e à inteligência artificial, eles precisam, de alguma forma, se conectar à internet, ao mundo exterior. Sem isso, sua casa não pode ser considerada “inteligente”. E, em praticamente 100% dos casos, esta conexão é feita usando a infraestrutura de internet que você instalou em sua residência.

SEGURANÇA

Voltemos, então, àquelas preocupações iniciais. Quando falamos em segurança, estamos pensando que nossa casa possa ser hackeada, que nossas câmeras possam ser invadidas e que o controle de nossos equipamentos possa ser feito por pessoas mal-intencionadas que invadam o nosso sistema. Tudo isso é potencialmente possível e, ao mesmo tempo, facilmente evitável.

Como dissemos, praticamente todo equipamento inteligente que possa ser colocado em sua residência depende de sua internet para alcançar o mundo lá fora, utilizando seu provedor e seu roteador. Portanto, como temos apenas uma porta de entrada, basta garantirmos que esta seja bem protegida. 

O primeiro passo é conhecer bem o seu equipamento de internet. Isso pode não parecer “tão” simples, uma vez que os provedores não gostam quando o usuário mexe nas configurações de fábrica. Se você não for uma pessoa com conhecimentos para isso, peça a ajuda de familiares ou especialistas. Não é difícil e nem caro.

Em seguida, garanta que as configurações do seu equipamento de internet (roteador) tenham um nível de segurança adequado. Ações recomendadas incluem trocar as senhas padrão dos equipamentos, definir uma senha do seu Wi-Fi que não seja muito óbvia e fechar algumas portas de acesso que não são normalmente utilizadas em uma residência. Trocar as senhas periodicamente também é uma medida de segurança, mas isto pode dificultar sua vida, uma vez que seria preciso reconfigurar cada dispositivo inteligente para a nova senha. Também é importante– ao menos uma vez – trocar a senha padrão de qualquer equipamento que se conecte à sua internet. As senhas de fábrica costumam ser as mesmas para todos e de conhecimento público.

Outro aspecto que aumenta a segurança de seu sistema é comportamental. Não forneça sua senha de Wi-Fi a qualquer um. Alguém que se conecte ao seu Wi-Fi é um potencial perigo, uma vez que você não tem qualquer controle sobre os dispositivos de terceiros. E é importante colocar senhas e bloqueios em celulares e tablets, pois, caso os perca ou sejam roubados, as senhas dos seus sistemas continuarão protegidas. Porém, mesmo nesse caso, programe uma troca de senhas de acesso ao sistema. Assim, tomando estas precauções e comprando equipamentos de marcas conhecidas, você minimizará os problemas de segurança do sistema de sua casa inteligente.

PRIVACIDADE EM UMA CASA INTELIGENTE

A questão da privacidade envolve o fornecimento ou obtenção indireta de dados pessoais e o modo como estes são protegidos pelos fornecedores dos equipamentos e serviços que compõem uma casa inteligente. Podemos considerar dois tipos básicos: aqueles dados “cadastrais” – nome, endereço, email e telefone – e outros indiretos (sua localização, preferências de compra, sites visitados, amigos de redes sociais e informações de seus cartões de crédito).

Deve-se entender, por outro lado, que a casa inteligente precisa de informações sobre seus moradores para poder aplicar sua inteligência. É necessário que a casa identifique cada morador individualmente e conheça suas rotinas e preferências para prever e antecipar ações, como liberar o acesso, regular o ar condicionado ou mesmo acender as luzes certas. Em lares onde há crianças, muitas vezes, os pais querem saber quando elas entram ou saem de casa.

Todos esses dados devem estar disponíveis para o sistema, o que significa que os computadores na Nuvem que fornecem a inteligência à sua casa precisam ter estas informações. Nesse caso, a opção é confiar nos provedores do serviço ou não ter uma casa inteligente.

Os provedores entendem que o futuro deles depende de sua reputação em manterem seus dados em segurança e investem muito para garantir isso. Por outro lado, muito do custo baixo (ou até nulo) que você paga aos provedores vem da possiblidade de eles venderem as informações que possuem a terceiros. Por enquanto, não é necessário se preocupar com isso: as empresas sérias vendem informações desvinculadas de qualquer conteúdo que possam identificá-lo. O objetivo é muito mais estatístico que pontual.

Vamos supor que o conceito de casa inteligente já esteja bem disseminado e que tenhamos uma quantidade significativa delas em uma determinada região. Estas casas terão aparelhos de ar condicionado inteligentes, geladeiras inteligentes e sistemas de acesso inteligentes. Pode haver uma rede de supermercados querendo conhecer os hábitos de consumo da região para avaliar se é vantajoso abrir uma filial. O provedor de serviços de casa inteligente pode, então, juntar todas as informações relativas ao consumo a partir das geladeiras e das listas de compras automatizadas, retirar delas quaisquer informações que identifiquem so donos e vender essas informações à rede de supermercados.

Ou, então, a distribuidora de energia elétrica quer saber quantos aparelhos de ar condicionado estão instalados em um determinado bairro para prever os picos de consumo no verão. O provedor pode fornecer tais informações sem prejuízo de privacidade e, com isso, a distribuidora garantirá um melhor fornecimento de energia elétrica. Até a polícia ou a vigilância privada do bairro podem prestar melhores serviços se tiverem um quadro dos horários onde há mais moradores chegando ou saindo de suas casas, sem precisarem saber exatamente “quem” são essas pessoas.

Há um ganho para todos quando os dados de cada usuário da casa inteligente podem ser utilizados mantendo-se a privacidade e a segurança de acesso a eles. Então, como se prevenir de potenciais problemas?

O mais importante é escolher fornecedores de produtos e de serviços que sejam conhecidos e que tenham um histórico que você possa pesquisar. Procure por comentários e artigos na internet sobre o fornecedor; isto o ajudará a entender quão seguros e privados seus dados estarão e se os serviços que você pretende contratar são prestados adequadamente.

Preste atenção às informações que lhe são solicitadas quando coloca um determinado produto para se conectar à sua rede internet. Elas, de alguma forma, devem estar relacionadas com o serviço que o produto quer prestar. E sempre leia os contratos dos serviços que pensa em contratar (pode ser chato e complicado, mas é importante). Em resumo: se você não for paranoico com seus dados pessoais, há fornecedores de produtos e serviços confiáveis. E os benefícios que você receberá em troca (funcionalidades inteligentes e redução de custo) valerão a pena.

Por George Wootton