Descubra o que pode acarretar problemas nas transmissões dos sinais
Texto: João Yazbek
Foto: Divulgação
A integridade do sinal é afetada pelas características dos materiais condutores e isoladores do cabo. Materiais dielétricos de boa qualidade reduzem um fenômeno chamado de “absorção do dielétrico”. E bons condutores melhoram o efeito pelicular, também importante, e que causa atenuação variável com a frequência (e, portanto, distorção) e outros problemas no sinal transmitido. O crosstalk, interferência entre cabos trabalhando com sinais diferentes, também se torna mais importante e mais intenso conforme a frequência aumenta. Um caso bastante conhecido de crosstalk entre cabos é aquele do mundo dos PCs, em que a substituição das interfaces IDE, que são paralelas, por interfaces seriais (SATA), que trafegam os bits a taxas muito maiores que na IDE. Isto seria um contrassenso, não fosse a existência de crosstalk entre linhas de dados na interface paralela IDE, que era insolúvel a baixo custo e que inviabilizou o aumento da taxa de transmissão nesse tipo de interface.
Ou seja: conforme a frequência aumenta, maiores são os desafios dos cabos. Por essa razão, cabos HDMI de baixa qualidade podem trazer transtornos aos usuários, com intermitências na transmissão que perturbam a vida dos instaladores e consumidores. Este fenômeno é chamado de “metaestabilidade” (um problema do cabo leva a uma situação em que uma condição de travamento ocorre de tempos em tempos).
Além disso, e sem entrar nos detalhes técnicos com profundidade, temos outros detalhes que fazem um cabo ser melhor do que outro. Lembrando que os sinais digitais são transmitidos de forma digital, mas são analógicos por natureza; eles podem ser afetados por ruído, distorção, interferências, vazamento de um cabo para outro (o já citado crosstalk) e uma série de problemas que afetam a transmissão de sinais. Com distâncias pequenas e com baixas taxas de transmissão, um cabo relativamente simples pode dar conta do recado. Mas, por outro lado, para distâncias longas e com taxas de bits elevadas, muitas variáveis podem afetar o resultado final até que uma falha acabe ocorrendo.
“DIAGRAMA DO OLHO”
Uma forma de caracterizar cabos utilizados em transmissão digital é o “eye pattern”, ou diagrama do olho. Em uma única verificação, é possível determinar se o cabo é bom ou ruim para a taxa de bits ou distância nas quais é preciso usá-lo. O interessante é que, em uma única medição, conseguimos extrair uma dezena de parâmetros que dizem quase tudo sobre a qualidade do cabo ou do sistema. Em condições controladas, há como determinar se um cabo é melhor que outro de forma quase instantânea. É uma pena que diagramas como esses não sejam publicados pelos fabricantes de cabos.
Conectores, aqui, também fazem muita diferença. É importante que sejam de boa qualidade e que tenham a forma similar à do cabo em questão. Isto porque uma descontinuidade na geometria do cabo na passagem pelo conector pode gerar efeitos adversos que degradam a qualidade do sinal. Um conector de excelente qualidade, que também é muito acessível, é o tipo BNC, ainda pouco visto em equipamentos de áudio. O autor, ao menos uma vez, viu um conector que não obedecia a esta regra básica de continuidade geométrica e que era visto pelo mercado como um excelente conector. Possivelmente porque introduzia algum problema de integridade no sinal que era considerada agradável pelos usuários.
Portanto, concluímos que cabos adequados fazem a diferença em situações as quais temos altas taxas de bits e comprimentos longos. “Cabos adequados” não significam “cabos caros”. Veja o caso de cabos de rede LAN Cat6 e Cat6A, com sua taxa de transmissão de 1 Gbit/seg e que podem trabalhar a 500MHz. Eles são baratos e têm se tornado padrão nas instalações, por trabalharem em frequências bem elevadas sem problemas. E, gradativamente, têm sido utilizados na comunicação entre produtos de áudio e vídeo, com sucesso e praticidade, aliados ao baixo custo por metro. Seu segredo não é o uso de materiais exóticos, e sim, de técnicas desenvolvidas através do profundo conhecimento dos itens que abordamos anteriormente, para fazer um cabo barato e de alta performance. Esses cabos de rede são a prova viva que a engenharia bem aplicada pode produzir cabos baratos e muito eficientes na transmissão de dados.
Espero ter abordado um assunto complexo de uma forma simples, sem ter a intenção de esgotá-lo, para que o leitor entenda as complexidades existentes e como estas podem ser contornadas. Cabe ao leitor atento, agora, escolher seus cabos digitais de forma consciente, levando em conta que cabos bons não são obrigatoriamente exóticos e caros. Basta ter boa engenharia aplicada que eles poderão ser ótimos e custar pouco.
Confira a edição #142 completa.