O fato é que, em mídia digital, duas situações precisam ser contempladas: a gravação e a reprodução
Texto: Fernando Ramos
É sempre assim: quando se opina sobre áudio, alguém sempre vai discordar de você. É mais ou menos como falar sobre religião. Porém, nos dias de hoje, o mais importante é saber olhar para trás e verificar que nem sempre o “improvável” é “impossível” – e que, quase sempre, o que é “impossível” certamente é “improvável”. A partir daí, concluímos que polêmicas como: “qual tipo de áudio é melhor, o estéreo ou o multicanal?” são extremamente cansativas e não levam a lugar nenhum. O fato é que opinião é opinião (e qualquer um pode dar a sua, mesmo sem ter a menor idéia do que está dizendo).
A beleza da questão reside em considerar o seguinte: o que é bom para mim nem sempre é bom para você, e o fato de, pessoalmente, eu ou você preferirmos o multicanal não significa que isto seja uma regra básica de audiofilia. Apenas temos opiniões diferentes sobre o mesmo assunto. O áudio de alta resolução é, sim, alcançado no ambiente doméstico, o que era impensável há algumas décadas. Porém, apesar dos avanços, não há consenso de qualidade entre formatos, conforme já se disse.
Ouço, hoje em dia, programas contendo áudio de alta resolução e fico de queixo caído com a qualidade e a nitidez alcançadas. Tais programas estão por aí, disseminados na forma de downloads, DVDs e Blu-rays. No entanto, a discussão sobre a superioridade e o desprezo de formatos continua e não esclarece nenhum aspecto técnico relevante que indique a alegada superioridade de um padrão sobre outros. Muito disso se deve, creio, à própria tecnologia, que confunde todo mundo, até os mais experientes. Nessas discussões, fala-se muito em “precisão”, quando se deveria estar falando em “qualidade” (que é a representação de valores autênticos).
Afinal: se existe alguma coisa que pode até ser precisa, mas raramente é exata, é a captura do sinal analógico de áudio por microfones. Na prática, o que a maioria das pessoas considera “uma boa gravação” é a captura do som ambiente com a menor quantidade de erros possível. E não seria por outro motivo que os pesquisadores de áudio do passado se detiveram no estudo de microfones de forma minimalista e exata.
Em tese, quando uma gravação não é boa, não será a mídia (discos ou arquivos) que irá fazer qualquer diferença durante a reprodução. Um exemplo claro é dizer que, por melhor que sejam suas caixas e amplificadores, se a gravação for ruim, os equipamentos não farão milagres. Então, afinal, o que se espera de uma boa mídia? A resposta é simples: que esta não limite a reprodução do que vem da fonte. Neste quesito, em particular, as limitações mais drásticas são as da mídia analógica, por conta das muitas etapas de transdução de energia.
O fato é que, em mídia digital, duas situações precisam ser contempladas: a gravação propriamente dita e sua reprodução. E nenhuma das duas exclui a outra (e não há, necessariamente, uma correlação entre ambas).