Elon Musk adquiriu o Twitter por US$ 44 bilhões

Não há substituto para uma boa educação, onde uma base de conhecimento sustentadas pela dúvida, curiosidade e a lógica sejam construídas

Por Daniel Schnaider

O homem mais rico do mundo, Elon Musk, adquiriu uma das redes sociais mais importantes do mundo, o Twitter, por US$ 44 bilhões. Segundo o bilionário, o direito à liberdade de expressão deve imperar. 

Eu o parabenizo. Aliás, de fato o pilar da democracia é a liberdade de expressão. No entanto, ressalto que, embora eu não negue o direito de expressão que você defende, é preciso ter a consciência de que uma mentira quando compartilhada nas redes milhões de vezes, pode sim ser comparada a uma verdade criando uma disrupção social e que ameaça a própria democracia que você busca defender.

Fake news ameaçam a ordem democrática, liberal dando poderio às pessoas populistas e dispostas a gerar confrontos desnecessários. Se sua ideia é criar um algoritmo aberto para o Twitter, sugiro elaborar uma premiação mundial em que as pessoas possam criar o algoritmo mais justo para as informações serem replicadas. Como a Netflix fez há algum tempo ao buscar o melhor algoritmo para recomendação de novas séries e filmes. Neste ponto, o importante é você encontrar aquela que vá garantir a veracidade e qualidade da informação, para que discursos de ódio sejam banidos. Inclusive, o concurso pode servir como base cientifica para faculdades e estudantes.

É do direito de qualquer indivíduo compartilhar suas ideias e convenhamos que a liberdade de expressão e a violência não são essencialmente um dilema das redes sociais. Afinal, racistas, extremistas e misóginos coexistem conosco desde que aprendemos a nos comunicar, o problema é que a tecnologia deu a eles amplitudes estratosféricas. Multiplicou a potência da comunicação aos grupos desinformados e obscuros que com uma boa dose de valentia proporcionada pelo anonimato, não se importam com a veracidade.

Controle

Mas apesar da falta de balanço na distribuição de informações, há de se ressaltar que grupos antes esquecidos, excluídos e sem voz ganharam força dentro do mesmo universo. Então como manter os bons resultados e excluir as falhas das redes? Com filtros, censura, equalização e a qualidade das informações compartilhadas.

Um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts cita que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras. Ou seja, a internet é um ambiente propício aos malfeitores. O que antes era limitado na imprensa secular, por um controle de sistema de comunicação em massa, com editores e profissionais qualificados que tinham o poder de filtrar as publicações, mesmo que de forma tendenciosa, atualmente tornou-se a livre demanda de opiniões.

Talvez uma das soluções passíveis seja diminuir a velocidade em que as informações são compartilhadas, com mais tempo para análise de categoria e veracidade, menos pessoas seriam impactadas pelas falhas. Pois, perceba que os leitores dos maiores veículos, atualmente não são apenas espectadores, são seguidores e comunicadores. Influenciadores possuem o mesmo alcance de divulgação que um jornal. Ou seja, cada indivíduo torna-se dentro do seu meio um veículo de comunicação em potencial.

A introdução de novas tecnologias traz momentos ruins, é uma parte infeliz da evolução humana, mas há recompensas, como tecnologias militares que deram origem a soluções na área da saúde, por exemplo. Ou mesmo o GPS e a internet, alicerce da telemetria hoje utilizado por empresas para salvar vidas, manter empresas e monitorar cargas preciosas, como exemplo as vacinas, que é elaborado com base em satélites militares do Ministério da Defesa Americano e a Internet inventado pela DARPA (unidade de pesquisa militar).

E neste contexto, das redes sociais, a comunicação e interação em massa funcionam para propagar campanhas de saúde, e os mais diversos alertas à população. Diante de tantas codificações e algoritmos, não é possível não conseguirmos construir um ambiente seguro nos meios de comunicação social.

Exposição

O uso indiscriminado das redes por pessoas que não só expõe a si mesmo, mas aos outros também, seja pelo lado profissional, pessoal ou ideológico, é um problema de todos. Mas o debate tem que ser estabelecido em soluções.

Acredito que você, Elon Musk, pode se propor a criar um ambiente que permite a dissipação de informações, ou mesmo de opiniões, com um mecanismo que exponha a veracidade de cada textão, post, meme ou matéria compartilhada, mesmo que contenham brincadeiras e opiniões. A tecnologia pode nos dizer qual o cunho de cada postagem.

Da mesma forma que filmes e aparelhos têm conteúdo com ampla classificação, assim o post deve ter seu selo de qualidade ou a falta dele. E ainda que tenhamos essa conquista, ressalto que não há substituto para uma boa educação, onde uma base de conhecimento sustentadas pela dúvida, curiosidade e a lógica sejam construídas. Não é uma questão de censura à liberdade de expressão, mas sim a luta pelo direito à veracidade que é um alicerce para o bom funcionamento da sociedade e a democracia.

Daniel Schnaider é CEO da Pointer By PowerFleet Brasil, líder mundial em soluções de IoT para redução de custo, prevenção de acidentes e roubos em frotas / FOTO KEINY ANDRADE