Série baseada nos thrillers geniais da escritora Patrícia Highsmith, Ripley é um dos maiores sucessos em toda a história do Netflix
Por Eduardo Torelli Fotos Divulgação
Um gênero que nunca sai de moda, o suspense, de tempos em tempos, nos presenteia com títulos que são autênticas obras-primas, capazes de arrebatar o público em geral (e não apenas o nicho específico de espectadores interessados no filão) com suas tramas inteligentes e pontuadas por reviravoltas que mexem com os nervos da plateia. Uma legítima sucessora dos filmes de Alfred Hitchcock, a série Ripley (um dos lançamentos recentes do Netflix) é um ótimo exemplo disso.
Em poucas semanas desde seu lançamento, Ripley se tornou uma das atrações mais populares do serviço de streaming e foi considerada pelos críticos como um dos melhores títulos já disponibilizados pela plataforma. Vale muito a pena embarcar nos oito excelentes episódios da série, que esbanjam qualidade técnica, drama e originalidade.
TENSÃO
O enredo gira em torno da enigmática figura de Tom Ripley, um farsante norte-americano que vive de pequenos golpes. Certo dia, ele se vê diante da oportunidade de embolsar uma verdadeira fortuna fazendo-se passar por outra pessoa. O vigarista é abordado por um rico construtor naval que o confunde com um amigo do filho mimado, Dickie, que há tempos mora na Europa. O empresário pede a Ripley que vá à Itália convencer Dickie a voltar para casa. O golpista, então, vai para Atrani, onde conhece Dickie e sua namorada e começa a colocar em prática um plano macabro para assumir a identidade de Dickie e se apoderar de sua fortuna.
Repleta de momentos tensos e realizada com muito bom gosto (até os assassinatos cometidos por Ripley são encenados com elegância, à maneira do grande Alfred Hitchcock), a série conta com uma soberba fotografia em preto e branco, que combina com o período em que se passa a história (os anos 1960), e com uma reconstituição de época primorosa. Os personagens também são tridimensionais e convincentes e despertam empatia no espectador, o que adiciona uma camada de realismo ao espetáculo. Mais do que tudo, a atração é um belo tributo à obra da escritora Patricia Highsmith, autora dos romances em que o enredo foi inspirado e um dos principais nomes da literatura de suspense do século 20.
REFERÊNCIA
Nascida em 1921 e falecida em 1995, Highsmith se tornou uma referência no gênero por seus thrillers psicológicos, incluindo uma série de cinco romances estrelados pelo personagem Tom Ripley. Além desses livros, ela é autora de contos e romances que deram origem a grandes clássicos do cinema de suspense, como Pacto Sinistro e Os Pássaros (ambos dirigidos por Hitchcock).
A primeira aventura literária de Tom Ripley foi publicada em 1955 e ganhou o nome de O Talentoso Ripley. Com o êxito da primeira novela, a autora escreveu quatro continuações da obra original: Ripley Under Ground (1970), Ripley’s Game (1974), The Boy Who Followed Ripley (1980) e Ripley Under Water (1991).
Vale lembrar que um longa-metragem baseado no mesmo livro antecedeu a série da Netflix. Trata-se de O Talentoso Ripley, de 1995, dirigido por Anthony Minghella. Naquela versão, o falsário e assassino é interpretado por Matt Damon, enquanto Dickie é vivido por Jude Law. O filme (que também conta com Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett e Philip Seymour Hoffman no elenco) também está disponível no catálogo do Netflix.
PRETO E BRANCO
Apesar de só ter estreado recentemente, Ripley é um projeto antigo, que começou a ser gestado ainda em 2019. Steven Zaillian, showrunner do título, afirmou que a opção de transformar o livro em uma série, e não em um longa-metragem, lhe permitiu ser mais fiel à trama original, incorporando ao trabalho o “tom” e as “sutilezas” da obra de Highsmith. “Tentei abordar minha adaptação de uma maneira que imaginei que a própria Patrícia o faria”, destacou.
Em Ripley, Zaillian atua como produtor executivo ao lado de Garrett Basch, Guymon Casady, Ben Forkner, Sharon Levy e Philipp Keel. O personagem principal é interpretado pelo ator irlandês Andrew Scott (famoso pelo papel do vilão Jim Moriarty na série Sherlock). O intérprete afirmou que sua representação do vilão criado por Highsmith partiu de um ponto de vista muito pessoal sobre a natureza do personagem. “Foi um papel pesado de interpretar.”, acrescentou o ator. “Achei esse trabalho mental e fisicamente difícil”.
Originalmente, as filmagens estavam programadas para começar em setembro de 2020, na Itália, mas foram adiadas para 2021. A direção de fotografia primorosa da série leva a assinatura de Robert Elswit, que filmou seus oito episódios com câmeras digitais Arri Alexa LF. Ripley. “A edição do livro de Ripley que eu tinha em minha mesa tinha uma fotografia evocativa em preto e branco na capa”, disse Zaillian. “Enquanto eu escrevia o roteiro, mantive essa imagem em minha mente. O preto e branco combina com essa história”.
Embora tenha sido concebida como uma série de uma só temporada, não é impossível que Ripley ganhe novos episódios no futuro próximo. Não apenas por haver um vasto material de inspiração para os roteiristas nos demais livros sobre o personagem, mas pela repercussão bombástica que o título teve junto ao público e à crítica. Ao menos no que depender da vontade dos assinantes do Netflix, este é apenas o início de um longo e frutífero relacionamento entre a plataforma de conteúdos e as obras inesquecíveis de Patrícia Highsmith.
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