O filme da saga Star WarsO Despertar da Força deu fôlego à franquia, mas tem um “gostinho” de antigamente…

Texto: Eduardo Torelli

Fotos: Divulgação

O fenômeno começou imodestamente em 1977, com o lançamento de uma aventura espacial que, mesmo que esnobada pela crítica, rapidamente caiu no gosto do público – especialmente das crianças –, gerando receitas milionárias nas bilheterias e uma avalanche de produtos de merchandising inspirados na produção. Star Wars (então, conhecido no Brasil pelo anacrônico título de Guerra nas Estrelas) revolucionou o cinema de entretenimento com seus efeitos especiais e direção de arte deslumbrantes, seus personagens curiosos e sua irresistível mescla de aventura, ficção científica e humor. Não é de surpreender que tenha gerado tantas sequências desde então, já que o apetite das plateias pela série nunca esmoreceu.

A mais recente delas – Star Wars – O Despertar da Força dá continuidade à lenda, ao mesmo tempo em que a “reinventa” para as novas gerações. Méritos para o diretor J.J. Abrams, que fez um trabalho semelhante em outra franquia de ficção científica famosa, Star Trek (Abrams é o idealizador dos novos filmes protagonizados pela tripulação da Enterprise). A estratégia do cineasta foi a mesma nas duas sagas: se manter fiel às origens das respectivas franquias, mas adicionar novos personagens, atitudes e ideias às suas fórmulas originais. Bingo!

“BAFAFÁ”

Houve muito “bafafá” quando a Disney anunciou que seria a nova “dona” da saga Star Wars (até então, propriedade da LucasFilm, empresa de George Lucas, o criador da saga). Será que outros produtores seriam capazes de dar continuidade a um universo ficcional que, até então, fora delineado exclusivamente a partir das ideias de Lucas? Os fãs também temiam que a Disney infantilizasse demais os novos filmes, alinhando-os ao tom de seus filmes e animações politicamente corretas.

Foi um alívio constatar que as previsões pessimistas estavam erradas: Star Wars – O Despertar da Força tem, sim, uma “pegada” mais moderna. Mas é surpreendente mais fiel ao “tom” dos três filmes originais da franquia (Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi) do que as prequels (prelúdios) que o próprio Lucas dirigiu nos anos 2000 (A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith), que eram mais parecidas com O Senhor dos Anéis do que com os primeiros clássicos da saga.

A crítica e o público aprovaram e o projeto foi recompensado nas bilheterias: este “Episódio 7” de Star Wars foi o primeiro filme a arrecadar mais de US$ 100 milhões em apenas um dia, superando o recorde de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2.

A VOLTA DO IMPÉRIO?

O filme se passa algumas décadas após os eventos de O Retorno de Jedi (no qual os rebeldes finalmente derrotaram as forças do Império e o maléfico Darth Vader). O problema é que, apesar do pretenso “clima de paz” que reina na Galáxia, os ideais ditatoriais do Império estão ressurgindo na forma da “Primeira Ordem”, que propõe um reinado tirânico nos mesmos moldes da ditadura de Vader e do Governador Palpatine.

Luke Skywalker (Mark Hamill), líder da rebelião contra o Império, está desaparecido. Resta, então, a uma catadora de sucata do deserto, Rey (interpretada por Daisy Ridley) e a um stormtrooper de bom coração, Finn (John Boyega), se opor à Primeira Ordem e a seus planos de dominação. Por sorte, eles contarão com uma “forcinha” de vários personagens clássicos da franquia, como Han Solo (Harrison Ford), Chewbacca (Peter Mayhew) e a Princesa Leia (Carrie Fisher).

Além de buscar uma abordagem visual mais próxima à dos longas clássicos de Star Wars (com menos pirotecnia digital e mais uso de cenários físicos, por exemplo), Abrams contou com a parceria do roteirista Lawrence Kasdan no delineamento da história. Lembrando que Kasdan é autor da trama daquele que é considerado o melhor o melhor filme da saga até hoje, O Império Contra-Ataca (lançado em 1981), além de ser o roteirista de Caçadores da Arca Perdida, outra superprodução icônica da LucasFilm. Seus argumentos sempre privilegiam as relações entre os personagens, razão pela qual O Despertar da Força – além de muitas cenas de ação – dá bastante ênfase aos elos afetivos entre os protagonistas. Especialmente entre Han Solo e a Princesa Leia, aliás, os pais do novo vilão da série, Kylo Ren (Adam Driver), que aspira ser um novo Darth Vader.

VISUAL “RETRÔ”

As filmagens de O Despertar da Força começaram em maio de 2014, em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos). Ali foram construídos alguns dos principais cenários da produção, incluindo naves espaciais e um grande mercado, onde a heroína Rey negocia as sucatas que recolhe no deserto (outras cenas externas foram captadas na ilha Skellig Michael, na Irlanda). O “trabalho pesado” da equipe de produção, porém, se deu nas instalações dos Estúdios Pinewood, onde foram rodadas diversas aventuras de James Bond. Aliás, foi durante a gravação das cenas internas que Harrison Ford se acidentou, fraturando uma perna (uma porta hidráulica teria caído sobre o ator!). O incidente exigiu um remanejamento na logística de filmagem, enquanto o astro se recuperava.

Segundo o diretor de fotografia, Daniel Mindel, a orientação era mesmo retornar a um esquema de produção “básico” – nada de muitas cenas captadas com fundo de tela verde ou excesso de intervenção digital. O próprio filme foi rodado em película de 35mm, não em formato digital, contrariando o esquema adotado por quase todas as produções realizadas nos últimos anos. É irônico que George Lucas tenha sido um dos maiores incentivadores da captação digital e que os três filmes de Star Wars que ele lançou nos anos 2000 tenham sido “porta-vozes” dessa tendência. E mais irônico ainda é que o novo filme (feito de maneira tão “anacrônica” para os dias atuais) tenha agradado mais aos fãs da série do que as três “polêmicas” prequels dirigidas por Lucas.

“Acho que as pessoas estão se voltando para os efeitos práticos”, chegou a afirmar Daniel Mindel. “Parece que há uma espécie de gravidade que nos puxa para trás, em direção a ela. Acho que mais e mais pessoas estão ficando críticas com uso exagerado de CGI em cenas de ação.” Isto não significa, é claro, que O Despertar da Força “abdique” do CGI: as ferramentas digitais apenas foram usadas com mais parcimônia no novo filme, “agregando” à composição das cenas em lugar de fazerem “todo” o trabalho sozinhas (a partir de imagens dos atores dialogando ou se movendo diante de uma tela verde).

“EXTRAS” SORTIDOS!

Afinal: O Despertar da Força é mesmo “tudo” isso que estão falando? Sim, embora a história não pareça ser nova (o enredo lembra muito o do Star Wars original, “aquele” em que os mocinhos precisavam destruir a temida “Estrela da Morte”) e algumas pontas do enredo tenham ficado soltas. Mas isto é parte do jogo, uma vez que a produção é a “ponta de lança” de uma nova trilogia e de um pacote de filmes independentes sobre os personagens. O importante é que os personagens clássicos estão lá, assim como a “Força”, as perseguições mirabolantes e a trilha sonora inconfundível do maestro John Williams (que, como de hábito, “abre os trabalhos” com pompa e circunstância, enquanto um letreiro em perspectiva desfila pela tela…).

A versão em Blu-ray do filme é rica em extras que farão a alegria dos fãs. As apresentações especiais incluem: Os Segredos de O Despertar da Força: Uma Jornada Cinematográfica; O Despertar da História: A Leitura do Roteiro; Diagrama de uma Batalha: a Luta na Neve; ILM – A Magia Visual da Força; e um “pacote” de cenas inéditas e

informações de bastidores imperdíveis. Não há dúvida: a “Força” está com este lançamento!