Até onde o uso da Inteligência Artificial nas redes sociais é uma brincadeira sem consequências?
Nas últimas semanas, as redes sociais foram monopolizadas por uma trend na qual os internautas usavam a Inteligência Artificial para se “transformarem” em personagens ao estilo das produções do estúdio Studio Ghibli, dirigido por Hayao Miyazaki e responsável por várias produções de sucesso. Apesar de divertida, essa “febre”, na opinião de alguns especialistas na área, pode desvalorizar o trabalho dos artistas da prestigiada produtora.
Fundador da SprintHub e SuperGeeks e especialista em IA, Marco Giroto acredita que, apesar da forma admirável com que a tecnologia reproduz o estilo clássico do estúdio, tal situação leva ao questionamento sobre quais são os limites entre homenagem, inspiração e cópia. Embora a IA seja um recurso incrível, é fundamental que sua reprodução não apague o valor da obra original e nem seja usada de forma descontextualizada ou exploratória.
DESAFIOS
Criada com o objetivo de formar consumidores e criadores de tecnologia, a rede de franquias SuperGeeks almeja preparar as novas gerações para os desafios e oportunidades do futuro tecnológico, ensinando programação e robótica de maneira lúdica e interessante.
Marco Giroto explica que essa tendência não surgiu de uma programação específica para imitar estilos particulares, mas da habilidade da IA em identificar padrões estéticos e narrativos a partir de vastas bases de dados. “O mérito está mais na forma como as pessoas conduzem esses prompts [comandos] do que numa programação direta para aquele estilo em si”, comenta o especialista.
A discussão se expande para a própria definição de autoria e criatividade. Quando uma imagem ou um texto é gerado por IA, de quem é a autoria? Do criador do prompt? Da base de dados que alimentou o modelo? Do artista original cujo estilo foi replicado? Giroto acredita que esse é um grande dilema ético, e que a questão também envolve desafios técnicos, como a proteção de direitos autorais.
O FUTURO DA CRIATIVIDADE
No que diz respeito ao futuro da criatividade diante da IA, o especialista destaca que tudo depende do uso da tecnologia. “A IA pode impulsionar a criatividade, desde que usada com responsabilidade”, comenta. “O risco de banalização do trabalho autoral original é real quando o uso da IA é superficial ou apenas para surfar uma trend. O papel das novas gerações de criadores será entender profundamente essas ferramentas, não só tecnicamente, mas também, filosoficamente”.
A inteligência artificial é uma ferramenta transformadora, capaz de ampliar as possibilidades criativas, mas também de gerar questionamentos. O desafio, portanto, não reside apenas na evolução tecnológica, mas na forma como a sociedade, criadores, artistas e incentivadores culturais irão lidar com essa nova realidade.
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