HANNIBAL -- Season: 1 -- Pictured: Mads Mikkelsen as Dr. Hannibal Lecter -- Photo Credit: © Robert Trachtenberg/NBC.

A série Hannibal está disponível em DVD e Blu-ray em todo país

Texto: Eduardo Torelli

Foto: Divulgação

Inteligente, sofisticado, astuto e sedutor: quando conferiu essas características a seu mais icônico personagem (o canibal Hannibal Lecter, protagonista de quatro romances que, depois, foram adaptados para o cinema), o escritor Thomas Harris elevou sua magistral criação a um patamar superior àquele ocupado pelos incontáveis psicopatas e assassinos seriais que monopolizaram a cultura pop no final do século XX. Lecter era tão impiedoso e sanguinário quanto Jason, Michael Myers, Freddy Kruegger e qualquer outro “superastro” de filme de terror, mas fora agraciado com um QI elevadíssimo e um carisma de aço (virtudes que, normalmente, são negadas a esse tipo de personagem).

Um renomado psiquiatra, Lecter também era um exímio conhecedor da natureza humana, o que o qualificava como um predador mais eficaz que os tradicionais vilões do gênero (via de regra, páreas com seriíssimos problemas mentais que se escondem por trás de máscaras de hóquei, fantasias de Halloween etc.). Após uma bem-sucedida cinessérie adaptada das obras de Harris (nos quais o grande Anthony Hopkins deu vida ao personagem) – O Silêncio dos Inocentes (1991), Hannibal (2001) e Dragão Vermelho (2002) –, foi a vez da TV beber inspiração na mitologia do consagrado autor, recolocando o famoso canibal na mídia por meio da série Hannibal.

CHARME E ATITUDE

A exemplo de tantos outros “reboots” e “prequels” realizados nos últimos tempos, Hannibal não tem uma ligação direta com os tão conhecidos filmes originados a partir de O Silêncio dos Inocentes. Só utiliza o protagonista e seu sombrio universo como premissas para uma história inteiramente nova. Talvez a mais feliz decisão dos produtores tenha sido a de convidar o excelente ator Mads Mikkelsen para viver o protagonista – Mikkelsen tem a atitude, o charme e a presença que Lecter requer; e o que é mais importante: não moldou sua performance nos trejeitos de Anthony Hopkins, que chegou a ganhar um merecido Oscar por sua interpretação do personagem.

Na série, o infame canibal ainda não é o “inimigo público número um” da América, como nos filmes (nos quais ele vivia confinado em um manicômio judiciário). Aqui, sua psique distorcida e suas tendências macabras permanecem ocultas das autoridades, que, inclusive, o utilizam como consultor em algumas investigações. É nesse contexto que Hannibal é apresentado ao professor e agente especial do FBI, Will Graham (Hugh Dancy), conhecido por sua incrível capacidade de reconstruir cenas de crime. Imediatamente um elo se estabelece entre os dois – isso porque, embora seja um dos “mocinhos”, Graham tampouco é a mais “normal” das pessoas. No fundo, ambos são mais parecidos do que se imagina.

SUSPENSE

Concebido como um “suspense Classe A” (e não como o tipo de espetáculo “carniceiro” que se espera desse tipo de história), Hannibal tem a seu favor uma produção de primeira linha, com elenco e equipe talentosíssimos, e uma plástica caprichada (a fotografia é especialmente inspirada). Os episódios também se beneficiam do profundo trabalho de caracterização que cada ator dispensou a seu personagem. Entre os coadjuvantes, destaque para a presença de Laurence Fishburne, interpretando um agente veterano e obstinado.

Bryan Fuller responde pelo desenvolvimento da série (que, ao que se informa, inspirou-se mais no romance “Dragão Vermelho” do que nos demais bestsellers sobre Lecter escritos por Harris). O programa estreou na NBC a 04 de abril de 2013, de cara conquistando o respeitando da crítica e um bom público. Fuller também escreveu o piloto da série – e o resultado foi tão satisfatório que a NBC logo deu o sinal verde aos produtores para a realização de 13 episódios, confiando na força e na versatilidade do primeiro script redigido para Hannibal.

LUGAR DE CANIBAL É… NA COZINHA!

A direção do episódio inicial ficou para David Slade, realizador do filme de terror “cult” 30 Dias de Noite (o que explica o apuro visual da produção, que definiu as linhas gerais para o programa). Hannibal contou até com um “consultor de culinária canibal” (!), José Andrés, que forneceu aos roteiristas “insights” sobre a preparação e o consumo de carne humana (sabidamente a iguaria preferida do Dr. Lecter!). Curiosamente as cenas que mostram Lecter na cozinha, fazendo verdadeiros “malabarismos” com panelas, cassarolas e outros utensílios domésticos, estão entre as prediletas dos fãs. Quase dá para acreditar que se está assistindo a um Master Chef especialmente dedicado a um público antropófago!

Após três temporadas, Hannibal chegou ao fim – mas os fãs e os produtores não aceitaram essa decisão da NBC. De fato, começaram um movimento no Twitter (#SaveHannibal) que visava, justamente, dar continuidade à série, mesmo que em outro canal (os principais serviços de conteúdo por streaming chegaram a manifestar interessado pela proposta, embora nenhum acordo tenha sido viabilizado). Resta-nos, então, revisitar Hannibal em DVD e Blu-ray, com aquele apelo “extra” que não se exclui: apresentações especiais feitas sob medidas para os fãs. Bom apetite!