A série Pinguim, lançada recentemente pela HBO, é um programa cheio de atrativos.

Muito bem realizada e com uma atuação magistral de Colin Farrell, Pinguim é uma das melhores séries lançadas pela HBO nos últimos anos

É verdade que o gênero de filmes e séries sobre super-heróis dos quadrinhos está saturado e que a maioria da produção cinematográfica e televisiva referente a esse tema é de gosto bastante discutível, apesar das altas bilheterias e índices de audiência alcançados por tais títulos.

Porém, também é verdade que alguns projetos desta seara ocasionalmente “saem da curva” e resultam em atrações que merecem ser exaltadas tanto pela criatividade como pela qualidade do elenco e da realização, e as boas tramas que apresentam. Um exemplo é a série Pinguim, lançada recentemente pela HBO e que é um programa cheio de atrativos para espectadores que esperam mais do que apenas efeitos especiais em adaptações de HQs para a telinha.

REALISMO

Da mesma forma que a trilogia de filmes sobre o herói Batman dirigida por Christopher Nolan há alguns anos revitalizou a imagem do homem-morcego ao apresentá-lo sob um prisma mais realista e menos caricato, Pinguim acerta em cheio ao evitar os clichês manjados dos filmes e séries da Marvel e DC e apostar em uma abordagem adulta e dramática do universo do Cavaleiro das Trevas. Vale lembrar que não há o menor sinal de Batman nos oito episódios da primeira temporada, exceto por uma menção muito discreta ao personagem na imagem que encerra o último capítulo.

Livremente inspirada na mitologia de Batman e seus vilões, a série da HBO nos mostra a melhor e mais consistente versão do icônico arqui-inimigo do homem-morcego, apresentado de forma mais espalhafatosa e caricata na clássica telessérie dos anos 60 (quando o personagem foi vivido por Burgess Meredith, usando um indefectível fraque e monóculo, e sempre com uma longa piteira na boca) e no filme Batman – O Retorno, dirigido por Tim Burton nos anos 1990 (ocasião em que Danny DeVito defendeu o papel).

Aqui, não há a menor sombra daqueles trejeitos engraçados e da Gotham City estilizada de Tim Burton. Tudo parece muito palpável e atual e os bandidos agem com violência brutal. Exceto pelo personagem central, sobrou pouco do universo originalmente idealizado por Bill Finger e Bob Kane (os criadores do Batman) e que vem sendo perpetuado ao longo das décadas pela editora DC Comics.

A trama deriva do mais recente longa-metragem sobre o herói da DC lançado nos cinemas (The Batman, de 2022) e pode ser vista como uma continuação daquele filme. Mas, ao invés de mostrar a luta do Cavaleiro das Trevas contra o mal, foca nas tensões e intrigas que agitam o submundo criminoso de Gotham. Criada por Lauren LeFranc e produzida pela DC Studios em parceria com a Warner Bros. Television, Pinguim ainda contou com a supervisão criativa de Matt Reeves, um dos responsáveis pelo sucesso da recente trilogia de filmes da série Planeta dos Macacos lançada há alguns anos.

VILÃO CONVINCENTE

Sem dúvida, um dos grandes destaques da série é a atuação magistral de Colin Farrell no papel do vilão. Para encarar esse projeto, Farrell precisou usar uma pesada maquiagem que o deixa completamente irreconhecível na tela – os desavisados poderão até achar que é outro ator vivendo o personagem, já que não há a menor semelhança entre o astro e o Pinguim monstruoso e cruel que protagoniza os episódios.

Além do visual impecável, o ator transmite toda a tragédia e malevolência do personagem por meio de gestos e reações que condizem com o perfil e a psicologia torpes do vilão. Há muita coisa interessante para ver em Pinguim, mas já valeria a pena assistir à série só para conferir a interpretação incrível de Farrell, digna de ser premiada com um Emmy ou Globo de Ouro. O elenco primoroso ainda reúne nomes como os de Cristin Milioti e Rhenzy Feliz (respectivamente vivendo os personagens Sofia Falcone e Victor Aguilar).

O enredo começa onde a trama de The Batman terminava. Em 2022, uma semana após o assassinato de Carmine Falcone e a quase destruição de Gotham em uma enchente provocada pelo Charada, Oswald “Oz” Cobb (o nome de batismo do Pinguim) executa Alberto Falcone, filho de Carmine e seu herdeiro na máfia, com a intenção de agir pelas costas da poderosa família de bandidos e criar seu próprio império do crime, tornando-se o gângster mais temido e poderoso da cidade.

A filha de Falcone, Sofia, é libertada do Asilo Arkham, onde cumpriu pena injustamente, e também decide assumir o lugar que já foi de seu pai na hierarquia do crime em Gotham. Começa, então, uma batalha entre clãs de bandidos que lembra as cenas mais memoráveis de O Poderoso Chefão e outros clássicos filmes de Máfia, em que os adversários não hesitam em utilizar os mais sórdidos truques para derrotarem seus oponentes.

Após uma estreia fenomenal em setembro de 2024, a série rapidamente ofuscou a concorrência e reativou o interesse do público pelos heróis e vilões da DC Comics. Tanto que, apesar de ter reclamado muito da maquiagem que precisou usar para viver o papel, Colin Farrell declarou que irá participar de alguns desdobramentos já anunciados de Pinguim, os quais incluem uma nova temporada da série e até filmes para o cinema. Isso comprova que, com originalidade e ousadia, sempre é possível extrair um lucro extra de produtos populares, mesmo quando o público já está cansado de conhecê-los. Vida longa ao Batman… e também, ao Pinguim!