Uma fantasia construída a partir da realidade histórica, Hollywood (disponível na Netflix) tem o selo de qualidade do produtor Ryan Murphy (American Horror Story)
Por Eduardo Torelli Fotos Divulgação
As coisas eram muito diferentes nos anos 1940. Naquele tempo, o cinema monopolizava as atenções do grande público, já que a TV aberta ainda dava seus primeiros passos e tecnologias como o videotape e o streaming não eram sequer imaginadas. Da mesma forma, o racismo não era considerado crime, situação que só começaria a mudar mais tarde, com o Movimento pelos Direitos Civis. Vivia-se, assim, uma outra realidade – talvez mais glamourosa, mas também, mais injusta e perigosa –, e não havia espaço para as minorias se expressarem. Nem mesmo em Hollywood (que, desde aquela época, já era conhecida como “a fábrica dos sonhos”).
A situação dos homossexuais não era diferente à dos negros, latinos e asiáticos. Embora muitos atores e profissionais da indústria do cinema fossem gays, isso precisava ser mantido em segredo (se fossem descobertos, provavelmente seriam banidos dos estúdios). Por essa razão, superastros como Rock Hudson (1925-1985) tiveram que manter sua orientação sexual em segredo durante toda a vida. A capital do cinema se manteve assim durante muitas décadas e só recentemente passou a encampar as causas desses grupos minoritários, além de produzir filmes que dessem voz a essas pessoas. Mas e se as coisas tivessem acontecido de outra forma? E se, na década de 1940, algum estúdio tivesse se rebelado contra o sistema e realizado filmes orientados para esses nichos da sociedade? Será que a história teria sido diferente?
Fantasia
Tudo isso nos leva a Hollywwod, minissérie disponível na Netflix cuja trama parte dessa pergunta. Com apenas sete episódios, é o tipo de programa ideal para uma maratona rápida. E o que é melhor: a história tem um desfecho – logo, não será preciso esperar uma próxima temporada para saber o que aconteceu com os personagens. Por outro lado, o universo envolvente criado pela série pode muito bem inspirar novos episódios (o que provavelmente acontecerá, considerando a boa receptividade que o título teve por parte do público e da crítica).
Embora a cenografia, os figurinos e o roteiro reproduzam com exatidão a década de 1940 (assim como a mentalidade reinante nos grandes estúdios da época, onde imperavam o machismo e o racismo), a série convida o espectador a mergulhar em uma espécie de “realidade alternativa”, mostrando que as coisas talvez pudessem ter disso diferentes se pessoas com poder de decisão houvessem desafiado as regras do establishment. Trata-se, portanto, de uma fantasia construída a partir dos fatos da época, e não de uma reprodução literal da história. Algo na linha de Bastardos Inglórios – filme dirigido por Quentin Tarantino em que o cineasta nos apresenta uma conclusão alternativa da Segunda Guerra Mundial, na qual Hitler, ao invés de cometer suicídio, é morto por um grupo de rebeldes. Ao invés de narrar a História como de fato ocorreu, Hollywood a apresenta como “deveria” ter acontecido.
Detalhes sobre a série Hollywood está edição 179 da Áudio & Vídeo – Design e Tecnologia. Confira todas as matérias interessantes, basta acessá-la gratuitamente!