computação nas nuvens

Será que, disfarçadamente, estamos retornando à era dos mainframes?

Por Roberto Blatt

A “computação nas nuvens” é um conceito que faz referência ao processamento e/ou armazenamento de dados e informações por meio de centros espalhados pelo mundo (uma “nuvem de computadores”) – em essência, a internet. Mas como tal conceito teria nascido?

No livro The Big Switch, o afamado escritor e especialista em tecnologia Nicholas Carr compara o surgimento da “computação nas nuvens” ao das primeiras usinas geradoras de energia elétrica, de meados do século XIX: o primeiro exemplo de migração do formato “local” para o formato “nas nuvens” foi justamente o dessas usinas.

RODA D’ÁGUA

Carr explica que, nos idos de 1850, as indústrias montavam suas próprias usinas geradoras de energia. E Henry Burden, engenheiro e industrial escocês radicado nos EUA, vislumbrou que produzir mais energia para sua indústria lhe daria ganhos em eficiência e produtividade e seria tão importante quanto ter trabalhadores qualificados ou bons produtos, trazendo-lhe uma vantagem competitiva sobre a concorrência.

Assim, ele construiu uma enorme roda d’água que se tornou um marco na paisagem local. Suas previsões concretizaram-se e, como outros fabricantes de seu tempo, ele envolveu-se tanto no negócio de produzir energia como de produzir bens; pode-se dizer que seu sucesso se deveu mais à enorme roda d’água que construíra do que propriamente à sua indústria. Mas os tempos mudaram e, com a criação das grandes usinas geradoras de energia elétrica, na primeira metade do século XX, rodas d’água como a de Burden se tornaram obsoletas e as indústrias passaram a se dedicar mais ao seu core business.

LEI DE MOORE

A cloud computing nada mais seria que a evolução desta migração para o mundo da computação (poder de processamento e armazenamento). As necessidades das empresas em termos de poder computacional não mais são atendidas dentro das próprias empresas, mas sim, através da capacidade de terceiros, que é locada, da mesma maneira como a companhia de energia elétrica vende a energia que a empresa vai utilizar – não há por que a indústria gerar ela mesma tal energia (claro que há exceções, como o caso de indústrias que voltaram ao princípio de construir suas próprias usinas, por uma questão de preço e logística).

Gordon Moore, co-fundador da Intel, enunciou o que hoje é chamado de Lei de Moore: em 1965, ele especulou que, a partir de então, a capacidade e velocidade dos processadores dobraria a cada 18 meses, sem que isto implicasse em aumento dos custos. A lei de Moore resiste e ainda não se chegou ao limite de sua validade. Mas o céu é o limite e este aumento de capacidade resulta custoso para as empresas conseguirem acompanhar. Surge a pergunta: para que investir em equipamentos caros e que logo ficarão obsoletos (ou, no mínimo, insuficientes) para atender às necessidades de TI? Daí para as nuvens é apenas um passo.

MIGRAÇÃO

Mas equipamentos grandes e processamento centralizado não evocam uma volta a uma época passada? Cloud computing e data centers de hoje não são os CPDs de ontem? Estamos disfarçadamente dirigindo-nos de volta à era dos mainframes? Efetivamente, poderíamos enxergar a migração para os data centers e para a computação nas nuvens desta forma, mas com o diferencial de que os serviços são oferecidos por terceiros (ainda que mainframes também possam ser alugados).  

Terceiros? A menção a eles logo evoca a questão da segurança, privacidade, disponibilidade e redundância dos dados. Os quesitos segurança e privacidade fazem com que algumas empresas migrem apenas parte de seus dados e serviços para as nuvens – por exemplo, dados de pedidos de clientes, mas não dados de seus cartões de crédito. Da mesma maneira, alguns bancos são mais reticentes quanto à migração.

Em particular, os quesitos disponibilidade e redundância normalmente são garantidos mediante o SLA – “Service Level Agreement” ou “Acordo de Nível de Serviço”; por este acordo é que se tem a garantia de desempenho contratualmente acordada. O que não quer dizer que o cliente deva dispensar seus backups locais. Mas backups locais nos levam de volta ao processamento e armazenamento locais…

Estaremos sendo obsessivos demais? Ou a computação nas nuvens veio para ficar? Para Nicholas Carr, a migração para as nuvens ocorre primeiramente com os processos que são similares entre organizações de quaisquer portes ou setores, sendo os maiores candidatos o CRM e os processos de RH, e os aplicativos de missão crítica, os últimos a migrar. Um caminho sem volta? É o que parece…