As cidades, vibrantes em suas cores e arte são foco no documentário Pele.

Pele, documentário de Marcos Pimentel, chega para locação à plataforma Embaúba Play

As cidades, vibrantes em suas cores e arte, se tornam figuras centrais do documentário Pele, que fez sua estreia mundial no IDFA/Envision Competition, no qual foi premiado com a Menção Especial do Júri, e no Brasil, foi exibido na Mostra Competitiva do É Tudo Verdade. Na Rússia, recebeu o Grande Prêmio da Crítica no Festival Message to Man, em São Petersburgo, e já foi exibido também na França, Canadá, Itália, China, Nova Zelândia, Rússia, Indonésia, Áustria, Alemanha e Colômbia.

Com produção executiva de Luana Melgaço e produção assinada pela Tempero Filmes, o diretor Marcos Pimentel revela que o filme nasceu do seu interesse pela experiência de viver em cidades inchadas, cheias de pessoas, conflitos e contradições, que temos no Brasil e na América Latina e pela pulsão da arte urbana encontrada nelas.

“Sempre gostei de caminhar pelas cidades prestando atenção no que está presente nos muros, paredes e estruturas de concreto. Incontáveis grafites, pichações, publicidades, letras, declarações de amor, palavras de ordem, hieróglifos, mensagens políticas, palavrões… É possível encontrar de tudo ali, numa caótica composição visual que diz muito do nosso tempo e dos lugares que habitamos”, diz o realizador.

Morando em Belo Horizonte, ele explica que começou a perceber, ali mesmo, as interações espontâneas que as pessoas têm com a arte urbana. “Mesmo sem nos darmos conta, a todo momento nossos corpos estão dialogando com os conteúdos que ‘vestem’ os muros. Ali, nesta espécie de pele, os ‘habitantes dos muros’ interagem com os ‘habitantes das cidades’, produzindo leituras bastante interessantes que, infelizmente, nem sempre temos tempo de contemplar”, complementa.

INTERAÇÃO CONSTANTE

Pele tem como foco a interação entre os habitantes das cidades e o que está expresso em seus muros e paredes. Grafites, pichações, símbolos indecifráveis, palavras de ordem, pensamentos políticos, hieróglifos, declarações de amor… Fragmentos de memória e gritos silenciosos que revelam os desejos, medos, fantasias e devaneios de quem habita os centros urbanos. As letras e desenhos interagindo com os diferentes corpos que transitam pelo espaço público. As narrativas urgentes das ruas que expressam as subjetividades dos mais variados discursos visuais que “vestem” as cidades brasileiras.

O filme foi rodado em 2019, em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Filmar nas ruas, para Pimentel, foi um desafio, mas também uma alegria. “A rua é um ambiente que me encanta justamente pela falta de controle quando se filma um documentário”, revela. “Nunca é fácil, mas também poucos espaços são tão ricos e prazerosos para um documentarista como as ruas das cidades. Não tínhamos controle de nada e nunca nos propusemos a isso. Então, era um filme onde precisávamos esperar muito e filmar pouco. Eram horas esperando até que determinada situação acontecesse espontaneamente diante de algum grafite ou pichação.”

PRODUÇÃO

Rodado sem captação de som direto, o som de Pele foi todo construído na pós-produção, por Vitor Coroa, que, além de reproduzir o som do que se vê na tela, trouxe várias camadas e possibilidades de interpretação a partir do som de cada sequência. Assim, o documentário tenta reproduzir a experiência urbana e a urgência dos discursos presentes nas ruas do país também através do som, perseguindo uma atmosfera sonora que permite uma outra experiência de cidade. Parceiro do montador Ivan Morales Jr. há 20 anos, Pimentel conta que a montagem era o desafio de se valer do material filmado e o transformar numa narrativa sobre o Brasil contemporâneo.

“Pele é um filme que não possui entrevistas, narrador, voz em off… O filme todo é construído somente pelo registro dos conteúdos dos muros, a observação entre a interação entre os corpos que habitam a cidade e os grafites e pichações e algumas sequências de intervenções artísticas pelo ambiente urbano. Portanto, a montagem foi essencial para articular estes elementos e fazer surgir um filme a partir deles.”

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