ACÚSTICA E DECORAÇÃO

0

Quem almeja conforto e bem-estar não pode prescindir de um tópico essencial em qualquer projeto: o modo como o som se comporta em cada ambiente

Texto: Tomas Andugar 
Imagens: Divulgação

Nos dias de hoje, em que o conforto e o bem-estar, mais do que nunca, estão em voga, não se pode desconsiderar a acústica como um elemento imprescindível em qualquer projeto residencial, comercial ou corporativo. Com as tecnologias existentes, é possível alcançar resultados notáveis sem inflar os custos originais (ou mesmo perder o apelo estético intencionado, com noções práticas de projeto e aplicação de soluções acústicas ao alcance de qualquer profissional informado).

A distinção mais importante que se deve fazer, inicialmente, é entre isolamento acústico e tratamento acústico, sendo estas áreas completamente independentes da acústica arquitetônica, de princípios absolutamente diferentes e necessidades específicas.

Isolamento ou tratamento?

O isolamento acústico tem, por princípio, tratar o aspecto quantitativo do som, primordialmente no que tange a privacidade acústica entre ambientes. Ou seja: o quanto o som de um ambiente se transmite às áreas adjacentes. Este tipo de solução se acha vinculada ao projeto de engenharia civil, por estar diretamente relacionada aos materiais empregados nas estruturas da edificação – suas massas, densidades e formas de interação com os demais elementos da construção.

Já o tratamento acústico lida com o aspecto qualitativo do som, controlando a forma com que o som interno se comporta no ambiente em relação aos ouvintes. Estando diretamente relacionado ao layout do projeto, materiais de acabamento e superfícies aparentes, este passa a ser nosso foco, daqui em diante.

Historicamente, o termo tratamento acústico ganhou um estigma pejorativo entre os profissionais envolvidos no design de interiores. Tradicionalmente, pela falta de produtos no mercado que aliassem o apelo estético à eficácia específica requerida (e em parte, também, pela escassez de profissionais qualificados para assessorar os arquitetos e decoradores em como suprir as necessidades técnicas sem fugir da linguagem empregada nos ambientes).

Meu maior intuito, no decorrer destes artigos, será desmistificar duas noções – a meu ver, equivocadas – sobre a forma com a qual o mercado lida com o som, de forma geral (e suas decorrências nos resultados práticos do dia-a-dia). Em primeiro lugar, a ideia errônea de que o tratamento acústico só é importante em casos de extremas necessidades técnicas, como estúdios, home theaters e salas de audição de música. E em segundo, mais enfaticamente, a de que a acústica é inimiga da decoração (e que acaba, fatidicamente, sendo um pesadelo para o cliente final, para o arquiteto e para o decorador).

Aconchego

Na concepção atual de um ambiente com qualquer finalidade, o conforto acústico deve ter a mesma importância e dedicação de outros elementos que compõem o projeto arquitetônico, tanto os técnicos quanto os subjetivos (o luminotécnico e a decoração, por exemplo).

Uma sala de estar aconchegante, na qual se possa conversar confortavelmente; um dormitório relaxante, que propicie paz e intimidade; um restaurante que garanta horas de descontração sem fadiga auditiva (e maior privacidade entre as mesas); e mesmo um banheiro com música ambiente sem grandes ecos e ressonâncias: tudo isto é possível, simplesmente, empregando-se noções básicas de tratamento acústico.

Um dos aspectos que tornam a acústica uma área quase negligenciada entre clientes e profissionais é o fato de que, dificilmente, se nota a existência de um conforto acústico adequado; não obstante, nota-se claramente a falta dele! E, uma vez que um ambiente é concluído e passa a ser utilizado, sua adaptação às soluções cabíveis em termos de acústica são, normalmente, custosas e traumáticas!

Para evitar transtornos e imprevistos, há formas inteligentes de otimizar a acústica envolvida em uma empreitada sem a necessidade de se elaborar um projeto específico para isso. É possível prever como o ambiente se comportará acusticamente baseando-se apenas na geometria das paredes, piso e teto, no volume e no posicionamento dos móveis e elementos decorativo; e, principalmente, na escolha dos materiais de acabamento.

Som e ruído

Um conceito essencial para um conforto acústico bem-sucedido (sem detrimento para a decoração e sem alteração nos custos de execução do projeto) é a noção de que nem sempre é necessário o uso de produtos ditos acústicos para controlar o som de um ambiente. Conhecer as propriedades acústicas de cada material já usual e mais comumente aplicado faz com que qualquer profissional seja capaz de utilizar elementos já presentes no escopo, de forma a atender à especificidade acústica de cada projeto.

Mas, antes de se compreender de que forma os materiais se relacionam com o som que neles incide, é necessário um maior conhecimento da natureza sonora, suas diferentes modalidades e a necessidade de cada tipo de manipulação sonora. Entrarei em mais detalhes ao longo dos próximos artigos – mas, neste primeiro momento, é importante já abordar um conceito primordial: a diferença entre som e ruído.

Conhecemos por som a transmissão de vibração do meio em que estamos inseridos (neste caso, o ar da atmosfera), entre a fonte e nossos ouvidos. A fonte sonora libera energia em forma de vibração, que se irradia pelo ar até entrar em contato com nosso tímpano – que, por sua vez, também entra em vibração pela energia sonora e envia sinais para nosso cérebro (que os interpreta como sons). Ou seja: essa energia só se torna o que conhecemos por som dentro de nosso cérebro. Por todas as demais etapas desta dinâmica de transmissão, o som nada mais é do que a pura vibração das moléculas do ar.

Apesar de fisicamente ser idêntico ao som, na prática, consideramos como ruído todo o som que não seja desejável. Como exemplos de fontes de ruídos, posso enumerar: um trovão, um motor de carro, um liquidificador e o bater de copos e talheres, entre outros. Costumo dizer que tendemos a querer ouvir os sons, mas não a escutar os ruídos. Tendo influências absolutamente diferentes em nosso cotidiano, os sons e ruídos que nos circundam devem ser abordados de formas diferentes, empregando-se conceitos diferentes e soluções igualmente diversas.