A acústica encarece um projeto? Isolamento e tratamento são a mesma coisa? Saiba o que é verdade ou mentira em se tratando de controle sonoro
Texto: Tomas Adugar
Imagens: Divulgação
Nessa coluna vamos abordar alguns mitos presentes em nosso cotidiano que propagam ideias errôneas sobre o emprego de materiais, projetos e profissionais da área de controle sonoro.
MITO: a preocupação com a acústica só é necessária em casos específicos, como estúdios, home theaters e na eventualidade de incômodos gerados por ruídos.
FATO: na verdade, a acústica é imprescindível em qualquer projeto, tanto residencial quanto comercial, pois lida diretamente com o conforto auditivo, que diz respeito a um dos nossos sentidos mais aguçados: a audição. As tendências modernas de arquitetura e decoração, por buscarem apelos mais clean e minimalistas, vêm criando ambientes com altas reverberações internas, principalmente pelo uso de grandes metragens de superfícies reflexivas (vidro, pedras, paredes etc.) e pouco uso de materiais absorsivos ou difusos, como tecidos, carpetes, cortinas e madeira, entre outros.
A alta reverberação em um ambiente fechado implica na sensação de desconforto profundo, que se intensifica ao longo de períodos mais extensos. Esse desconforto, ainda que subconsciente, é severo no estímulo à irritabilidade, graças a um fenômeno denominado “fadiga auditiva do músculo estapediano”. Como exemplo: imagine uma máquina de ar-condicionado ruidosa. Mesmo com sons intensos, nosso cérebro passa a filtrar o ruído após alguns minutos de som contínuo e paramos de percebê-lo. Mas, mesmo que não tenhamos consciência do ruído, nosso tímpano continua a ser estimulado e a gerar sinais para nosso cérebro, que os ignora. Dá-se, então, o cansaço auricular e o desconforto. E explica-se a importância de um projeto de conforto acústico específico.
MITO: meu empreiteiro/gesseiro/marceneiro entende de acústica, pois já fez até projetos para estúdios.
FATO: é pouco provável que um profissional sem formação acadêmica específica na área de acústica seja capaz de avaliar, calcular, dimensionar e aplicar as soluções necessárias para uma acústica eficiente. Um pedreiro pode ter executado inúmeras lajes, paredes ou até grandes edificações, sem que isto signifique que ele seja capaz de resolver cálculos rudimentares de engenharia estrutural. O mesmo se aplica à acústica. Um projeto de isolamento acústico envolve a definição e utilização de normas de ruído interno por faixa de frequência, escolha e aplicação de materiais por massa, interação de densidades, desacoplamento, uso de canais resilientes e flutuação de corpos. Enquanto um projeto de tratamento acústico depende de curvas de atenuação e controle de reverberação, controle de modos de ressonância, difusão e deflexão de ondas refletidas, entre outros aspectos. A probabilidade de que um suposto “entendido” no assunto alcance o mesmo resultado de um profissional realmente capacitado é praticamente nula. Para regulamentar a qualidade deste trabalho específico, contamos com a Sociedade Brasileira de Acústica (SOBRAC), que atua de forma semelhante ao CREA e ao CAU em suas respectivas áreas.
MITO: isolamento e tratamento são a mesma coisa.
FATO: um projeto de isolamento acústico é praticamente o oposto de um projeto de tratamento. O isolamento trata do aspecto quantitativo do som, visando a privacidade acústica entre ambientes, enquanto o tratamento acústico lida com o aspecto qualitativo do som interno de um ambiente, ou seja: da forma com que percebemos o som em casos específicos. Como exemplos de projetos de isolamento acústicos, podemos enumerar o enclausuramento de geradores de energia, desacoplamento de máquinas de elevadores e até a construção de piso, laje e paredes flutuantes para um quarto de estudo de bateria – todos buscando a redução na transmissão dos ruídos a ambientes adjacentes. Tratamento acústico é usual em salas de concerto, cinemas, restaurantes e home theaters, com a finalidade de evitar casos de fadiga auditiva e aprimorar os sons desejáveis de músicas, filmes ou conversas.
MITO: revestimentos acústicos aplicados às paredes evitam que o som se transmita para os ambientes seguintes.
FATO: os materiais de revestimento considerados “acústicos” não estão relacionados ao isolamento entre paredes, e sim, à sonoridade interna do espaço aplicado. Seja pelo material ou formato do revestimento, seu comportamento se limita à forma com que os sons nele incidentes se refletem de volta ao ambiente, alterando nossa percepção da reverberação da sala. Não há forma eficaz de alcançar isolamento acústico em módulos ou painéis, são necessárias estruturas de grande massa física, herméticas e homogêneas para que a perda na transmissão sonora seja significativa.
MITO: a acústica é inimiga da estética.
FATO: todo material empregado na construção e decoração de um espaço tem características acústicas, independentemente de sua função principal. Tendo domínio sobre o comportamento acústico dos elementos aplicados ao projeto estético, é possível alcançar a qualidade sonora necessária sem as limitações decorativas dos produtos acústicos usuais. Em contrapartida, há, no mercado, produtos acústicos desenvolvidos especificamente para complementar a decoração, mesmo dos ambientes mais primorosos, seja pelo design vanguardista de audiodifusores como o NHX ou pelo apelo “invisível” de absorvedores como o DECORAC, ambos de desenvolvimento e fabricação exclusivos da empresa brasileira NEMESIS audiodifusores.
MITO: a acústica encarece o projeto.
FATO: o resultado final de um projeto arquitetônico elaborado sem nenhum cuidado com o comportamento sonoro dos elementos empregados é, em sua quase totalidade, desastroso no que tange o conforto acústico. Executado o projeto original, a adaptação da situação existente às necessidades acústicas percebidas posteriormente via de regra compromete não só a funcionalidade final do projeto, como, também, a performance sonora adaptada (e certamente, o orçamento investido!). É recomendável que um profissional de engenharia acústica (ou acústica arquitetônica) seja sempre consultado durante o projeto, para que seja possível prever eventuais problemas ainda no estágio criativo do processo.