Terceira temporada de Stranger Things comprova o fascínio da série infanto-juvenil mais descolada do momento
Por: Eduardo Torelli
Era uma vez um tempo de inocência, de mocinhos e vilões bem definidos, de videocassetes e jogos de tabuleiro e de shopping-centers que se tornaram um refúgio para a juventude. Esta ambientação não apenas descreve os anos 1980, como evoca o clima nostálgico de Stranger Things, série que nos leva de volta aos primeiros anos da chamada “década perdida” – uma era prolífica para o cinema, a música e a tecnologia, mas, também, o ápice da Guerra Fria, quando a sobrevivência da raça humana parecia estar por um fio.
Este misto de apreensão e fantasia também define a trama da série, cujo cenário é uma cidadezinha americana que, de uma hora para a outra, se torna o palco de uma batalha entre o bem e o mal. Os heróis são um grupo de pré-adolescentes desajustados que têm a oportunidade de provar seu valor ao encarar uma ameaça sem precedentes: o “mundo invertido”, uma realidade paralela povoada por criaturas monstruosas. Se o portal que separa aquela dimensão assustadora da nossa não for definitivamente fechado, a Terra mergulhará no caos.
PARA TODOS OS GOSTOS
Uma característica interessante da série é que, por seu caráter “retrô” e sua realização caprichada, Stranger Things conseguiu conquistar adultos e adolescentes. Também se mostrou uma ideia lucrativa, já que o programa (disponível no serviço de streaming Netflix) inspirou diversos “subprodutos”, incluindo livros e histórias em quadrinhos. O sucesso é merecido: a atração realmente consegue fisgar o público com seus heróis convincentes, sua trama de ficção científica pontuada por momentos de humor e suas inúmeras reviravoltas narrativas, que deixam o espectador ansioso para assistir ao próximo episódio.
O fascínio da série se renova na terceira temporada, que estreou há algumas semanas e fez um “barulho” danado: no dia 08 de julho, a Netflix anunciou que 40,7 milhões de assinantes já haviam assistido aos novos episódios, disponibilizados quatro dias antes. A crítica também respondeu de forma positiva, enaltecendo a criatividade dos novos roteiros e considerando a atual temporada superior às anteriores.
De fato – como espectadores familiarizados com a série notarão já no primeiro episódio –, muita coisa mudou nesta temporada. A começar dos protagonistas, que deixaram de ser criancinhas “fofas” e inocentes: Eleven (Millie Bobby Brown), Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin), Will (Noah Schnapp) e Max (Sadie Sink) agora são adolescentes e estão às voltas com os problemas típicos dessa fase da vida. Por outro lado, a trama central da série também evoluiu: o perigo do mundo invertido se misturar com o nosso é, agora, mais real do que nunca, já que os russos (tradicionais inimigos dos norte-americanos na década de 1980) querem explorar aquela dimensão paralela com propósitos militares. Este projeto audacioso é empreendido a partir de uma instalação secreta escondida dentro do novo shopping-center da cidade, onde as crianças locais se divertem e assistem aos grandes blockbusters da época, como De Volta para o Futuro. Uma “piração” irresistível, na qual embarcamos com prazer.
MEMÓRIAS AFETIVAS
Ao criar o conceito da série, os showrunners Matt e Ross Duffer (mais conhecidos como os “Duffer Brothers”) tinham na cabeça muitas memórias afetivas da própria adolescência – filmes famosos dos anos 1970 e 1980, como Alien – O Oitavo Passageiro, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, E.T. – O Extraterrestre e A Hora do Pesadelo, entre muitos outros. Eles também se inspiraram no estilo do diretor M. Night Shyamalan, que revitalizou o gênero Suspense no início dos anos 2000, com obras como O Sexto Sentido e Sinais. Todas essas referências se encontraram no conceito de Stranger Things, que agradou aos executivos da Netflix a ponto do serviço de streaming fazer uma oferta irrecusável aos irmãos.
A aposta valeu a pena: assim como House of Cards e Orange is the New Black (suas antecessoras na programação da Netflix), a série de Matt e Ross Duffer comprovou que a nova plataforma tem poder de fogo suficiente para desbancar as mídias convencionais, como a TV aberta e o próprio cinema. Em uma época saturada de monótonos filmes de super-heróis e refilmagens desnecessárias, a atração é um oásis de criatividade, apesar de seu apelo nostálgico. A falta de nomes famosos no elenco e a produção modesta (em comparação à dos grandes lançamentos cinematográficos dos últimos anos) são compensadas por personagens de carne e osso, nos quais conseguimos acreditar, e roteiros engenhosos, que estimulam a imaginação.
Embora uma quarta temporada certamente esteja nos planos da Netflix, ainda não há uma data divulgada para a sua estreia (um palpite é que seja por volta do ano que vem, ou início de 2021). A princípio, os realizadores temiam que o fato de os principais atores terem amadurecido desde as duas primeiras temporadas fosse um problema, já que isto poderia alienar uma parcela considerável de sua audiência: o público infantil. Porém, o sucesso dos novos episódios mostrou que, como qualquer série de entretenimento consagrada, Stranger Things é capaz de evoluir junto com os seus fãs. Crianças e adultos mal podem esperar para conferir as futuras aventuras dessa turma irresistível.
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