Evil leva muito a sério sua temática sobrenatural – inclusive, assustando o público.

Em Evil, um trio de investigadores a serviço do Vaticano explora os limites entre a ciência e o sobrenatural

Qualquer autêntico apreciador de filmes de suspense e terror sabe que nem só de efeitos especiais milionários vivem esses gêneros. De fato, os truques visuais são apenas o chantily do bolo. Sem boas tramas, uma carga dramática genuína e personagens consistentes, tais produções facilmente caem no ridículo e no esquecimento.

Cientes disso, os criadores da série Evil (no Brasil, também conhecida como Contatos Sobrenaturais) conseguiram fazer uma importante contribuição ao filão. E quem quiser tirar a prova dos nove vai se divertir bastante acompanhando as quatro temporadas da atração em uma variedade de plataformas, que incluem a Amazon Prime e a GloboPlay.

STEPHEN KING

Uma criação dos showrunners Robert e Michelle King, Evil estreou na CBS em 2019 e, depois, também foi exibida no Paramount+. A série chegou ao Brasil um ano depois, por meio do Universal TV. O que impressiona nesta atração é que, além de angariar um enorme séquito de fãs, Evil conquistou até o respeito de Stephen King, ninguém menos que o mais renomado e bem-sucedido escritor de livros de terror do mundo.

Conhecido por “torcer o nariz” para tudo, o autor de O Iluminado e A Coisa expressou abertamente sua admiração pela inteligência e qualidade da série, assim como a forma lúcida com que seus roteiristas lidaram com os elementos sobrenaturais dos enredos. Inclusive, King chegou a apelar publicamente aos realizadores que dessem continuidade ao programa quando seu cancelamento foi anunciado.

Mas, afinal, o que há de tão especial em Evil? Podemos começar pela trinca de protagonistas, que têm o mesmo carisma dos saudosos Mulder e Scully (os investigadores do FBI que, em Arquivo X, enfrentavam ameaças parecidas às combatidas pelos heróis deste programa). Ao longo dos episódios, o público acompanha o inusitado dia a dia do time formado pela psicóloga forense Kristen Bouchard (interpretada por Katja Herbers), o padre em formação David Acosta (Mike Colter) e o empreiteiro Ben Shakir (Aasif Mandvi).

ATAQUES DEMONÍACOS

O trio tem a missão de investigar casos que “parecem sobrenaturais” e estão ligados à Igreja Católica. Isso porque, antes que o Vaticano autorize um exorcismo, é preciso investigar o suposto caso de possessão demoníaca a fundo, constatando se o problema em questão é mesmo de natureza espiritual ou um assunto de cunho psiquiátrico.

Regularmente, Kristen, David e Ben se envolvem com alegados milagres, ataques demoníacos e assombrações, combinando seus conhecimentos e talentos para chegarem a um veredicto consistente.

Confrontando a fé com a ciência, eles acabam explorando os limites entre a realidade que conhecemos e o que nos espera após a morte. Terror psicológico bem conduzido e cenas que provocam arrepios até no mais céptico dos espectadores são o forte da série.

Enquanto o cinema pop patina em filmes de terror pasteurizados e regados a bom-humor, Evil leva muito a sério sua temática sobrenatural – inclusive, assustando o público com visões de demônios e outras entidades muito convincentes (cortesia dos excelentes efeitos de maquiagem e visuais do programa). Outro aspecto interessante é que, no curso da narrativa que amarra todos os episódios, as vidas dos personagens centrais vão se entrelaçando cada vez mais com os eventos que eles investigam.

UNANIMIDADE

Criticamente, a série obteve o mesmo triunfo conquistado junto às audiências, se tornando uma espécie de unanimidade entre os especialistas. O site agregador de críticas Rotten Tomatoes, por exemplo, registra um índice de aprovação de 92% com base em 48 críticas, sendo a classificação média de 7,73/10. O consenso crítico do site afirma: “Escrito de maneira inteligente e efetivamente perturbador, Evil funciona melhor quando se atreve a mergulhar nas profundezas das questões incômodas que coloca”.

Já o Metacritic, que usa uma média ponderada, atribuiu uma pontuação de 76 de 100 com base em 14 avaliações, indicando “críticas geralmente favoráveis”. Ou seja: estamos diante de um legítimo vencedor neste gênero – um tipo de atração que surge apenas de tempos em tempos e que, assim como seus antecessores Arquivo X e Kolchak e os Demônios da Noite, já nasce destinada a se tornar um clássico. Se você tem simpatia pelo gênero, não deixe de assistir.

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