Ricardo van Steen aposta na originalidade e versatilidade ao conceber suas peças, que são influenciadas pelo universo da arquitetura
O ecletismo marca a trajetória de Ricardo van Steen, que fez importantes contribuições a áreas tão diversas quanto o cinema, as publicações e, mais recentemente, o design de móveis e objetos. Suas criações neste último segmento podem ser encontradas na loja em São Paulo da Novo Ambiente e se distinguem pela originalidade e por influências pinçadas do universo da arquitetura.
Entretanto, a experiência com design de móveis não é algo novo para o artista, que se exercita nessa atividade há aproximadamente 30 anos. “Foi só chegando aos 60 que comecei a perceber o tamanho da pilha de peças já feitas”, recorda van Steen. “Daí para resolver partir para uma nova aventura foi um passo”.
Detalhe: seus primeiros itens de escala comercial ganharam tamanho destaque na mídia especializada que o fizeram faturar não apenas um, mas dois prêmios no último Prêmio Casa Vogue Design 2020. Além da sua escolha pelo júri especializado na categoria Estofados, ele também foi laureado na categoria Talento em Ascensão.

Desafios
“Adorei ter ganhado esses prêmios, pois eles traduzem o meu espírito mais íntimo: de quem começa do zero todo dia”, avalia o artista. “Quando vi a cara das peças concorrentes, achei que já tinha perdido. Mas soube que, durante a sessão de avaliação, os jurados curtiram o conforto, e depois de ver o resto da coleção, decidiram. Acho que é isso, um conjunto interessante que não se parece com o trabalho dos outros, muito bem realizado, agregando tecnologias de vários territórios”.
As influências vindas da arquitetura são facilmente notadas na obra de van Steen, especialmente o desafio de reproduzir, em menores dimensões, o pensamento ergonômico e estético brasileiro. “Como dizia Mies van der Rohe, é bem mais difícil desenhar uma poltrona que um edifício. Carlos Motta diz que um projeto de móvel pode atingir milhares de decisões. Atraem-me demais esses desafios enormes”, prossegue o designer, que também se inspira nas obras de Lina Bo Bardi, Sergio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Fulvio Nanni e Joaquim Tenreiro, entre outros.
No que se refere ao uso de materiais, as opções do artista são igualmente diversas. Ele já teve experiências em pinturas com cal, bordando tapetes, entalhando o couro e até mesmo lançando mão de aplicativos de construção digital, como o Adobe Photoshop. “Vou beber sempre em outras fontes e, quando acho algo que me intriga, fico obcecado pela ideia de responder criativamente, e só sossego quando vejo a ideia de pé”, ressalta van Steen. “Por isso, uso muito isopor e madeira para pensar mobília. São materiais que permitem ir longe sem muita estrutura”.

Peças em destaques
Entre as peças assinadas pelo designer destacada pela Novo Ambiente está a belíssima Poltrona Kanga Comfort, Inspirada no cangaço e nas sacas de alimento dos confins do nordeste brasileiro. A peça tem estrutura articulável em madeira de lei com ferragens reforçadas em aço-carbono banhado em latão, cintas e assento em couro sola. Na versão “Bold” da poltrona, a inspiração nas sacas de alimentos prevalece, mas, agora, sobre pés metálicos.
Com estrutura articulável em madeira de lei com ferragens reforçadas em aço-carbono banhado em latão, além de cintas e assento em couro sola, a Poltrona Kanga Light está disponível em várias cores, de acordo com a estação. Já a Chaise Longue Massa, peça principal da linha Massa, é feita sob medida a partir das medidas do proprietário.
Pode ser confeccionada em madeira maciça ou laminada e contar com vários tipos de estofamento e opções de cor. Das sobras de madeira em sua confecção nasce a mesa Massa. Por fim, o Tapete Loio R é inspirado nas obras do artista Loio Pérsio, pai de Ricardo. A peça traz releituras das composições e das palhetas de cor usadas pelo pintor, que fez sucesso nos anos 1960 e 1970 e, atualmente, vem sendo resgatado pelo mercado de arte com stands em feiras importantes e retrospectivas em museus.