Com uma proposta bem diferente à dos filmes baseados na obra do escritor Thomas Harris, série Hannibal estreia em DVD e Blu-ray no Brasil
Texto: Eduardo Torelli
Imagens: Divulgação
Inteligente, sofisticado, astuto e sedutor: quando conferiu essas características a seu mais icônico personagem (o canibal Hannibal Lecter, protagonista de quatro romances que, depois, foram adaptados para o cinema), o escritor Thomas Harris elevou sua magistral criação a um patamar superior àquele ocupado pelos incontáveis psicopatas e assassinos seriais que monopolizaram a cultura pop no final do século XX. Lecter era tão impiedoso e sanguinário quanto Jason, Michael Myers, Freddy Kruegger e qualquer outro “superastro” de filme de terror, mas fora agraciado com um QI elevadíssimo e um carisma de aço (virtudes que, normalmente, são negadas a esse tipo de personagem).
Um renomado psiquiatra, Lecter também era um exímio conhecedor da natureza humana, o que o qualificava como um predador mais eficaz que os tradicionais vilões do gênero (via de regra, páreas com seriíssimos problemas mentais que se escondem por trás de máscaras de hóquei, fantasias de Halloween etc.). Após uma bem-sucedida cinessérie adaptada das obras de Harris (nos quais o grande Anthony Hopkins deu vida ao personagem) – O Silêncio dos Inocentes (1991), Hannibal (2001) e Dragão Vermelho (2002) –, foi a vez da TV beber inspiração na mitologia do consagrado autor, recolocando o famoso canibal na mídia por meio da série Hannibal. Quem ainda não viu terá a oportunidade de fazê-lo agora, já que a primeira temporada do programa já está disponível em DVD e Blu-ray no Brasil pela PlayArte.
Charme e atitude
A exemplo de tantos outros “reboots” e “prequels” realizados nos últimos tempos, Hannibal não tem uma ligação direta com os tão conhecidos filmes originados a partir de O Silêncio dos Inocentes. Só utiliza o protagonista e seu sombrio universo como premissas para uma história inteiramente nova. Talvez a mais feliz decisão dos produtores tenha sido a de convidar o excelente ator Mads Mikkelsen para viver o protagonista – Mikkelsen tem a atitude, o charme e a presença que Lecter requer; e o que é mais importante: não moldou sua performance nos trejeitos de Anthony Hopkins, que chegou a ganhar um merecido Oscar por sua interpretação do personagem.
Na série, o infame canibal ainda não é o “inimigo público número um” da América, como nos filmes (nos quais ele vivia confinado em um manicômio judiciário). Aqui, sua psique distorcida e suas tendências macabras permanecem ocultas das autoridades, que, inclusive, o utilizam como consultor em algumas investigações. É nesse contexto que Hannibal é apresentado ao professor e agente especial do FBI, Will Graham (Hugh Dancy), conhecido por sua incrível capacidade de reconstruir cenas de crime. Imediatamente um elo se estabelece entre os dois – isso porque, embora seja um dos “mocinhos”, Graham tampouco é a mais “normal” das pessoas. No fundo, ambos são mais parecidos do que se imagina.
Suspense
Concebido como um “suspense Classe A” (e não como o tipo de espetáculo “carniceiro” que se espera desse tipo de história), Hannibal tem a seu favor uma produção de primeira linha, com elenco e equipe talentosíssimos, e uma plástica caprichada (a fotografia é especialmente inspirada). Os episódios também se beneficiam do profundo trabalho de caracterização que cada ator dispensou a seu personagem. Entre os coadjuvantes, destaque para a presença de Laurence Fishburne, interpretando um agente veterano e obstinado.
Bryan Fuller responde pelo desenvolvimento da série (que, ao que se informa, inspirou-se mais no romance “Dragão Vermelho” do que nos demais bestsellers sobre Lecter escritos por Harris). O programa estreou na NBC a 04 de abril de 2013, de cara conquistando o respeitando da crítica e um bom público. Fuller também escreveu o piloto da série – e o resultado foi tão satisfatório que a NBC logo deu o sinal verde aos produtores para a realização de 13 episódios, confiando na força e na versatilidade do primeiro script redigido para Hannibal.