O surgimento de uma obra como Pecadores deve ser comemorado de forma entusiástica.

Vampiros, música folclórica e um Mississippi assombrado por forças sobrenaturais se misturam em Pecadores, já disponível no streaming

Em uma era na qual o cinema prefere investir em ideias “manjadas” e que já deram certo – o que explica o tsunami de refilmagens e continuações de filmes famosos, como Star Wars, Aliens ou as aventuras dos heróis da Marvel –, o surgimento de uma obra como Pecadores deve ser comemorado de forma entusiástica. Afinal, isso mostra que, ao menos na seara do Terror, ainda há gente criativa em Hollywood disposta a produzir material novo e em oferecer ao público sustos de verdade, ao invés dos clímaxes mecânicos de séries como Premonição, que pecam pela mesmice e pelo cansaço.

Dirigida e escrita por Ryan Coogler (também responsável pelo sétimo filme da saga Rocky, Creed, que deu novo fôlego à saga do boxeador vivido por Sylvester Stallone), a produção tem uma ambientação que foge ao lugar comum – a América rural dos anos 1930, marcada por conflitos inter-raciais – e é estrelada por Michael B. Jordan, que se desdobra nos papéis de dois irmãos gêmeos que retornam à sua cidade natal para recomeçarem a vida, até que se envolvem em uma situação que só pode ser definida como “do outro mundo”.

PRODUÇÃO CAPRICHADA

Nos cinemas, o filme teve uma carreira coroada pelo público e a crítica, e agora segue sua jornada comercial no streaming, sendo oferecido em diversas plataformas, como Amazon Prime e Apple TV. O elenco talentoso é complementado por nomes como: Hailee Steinfeld, Miles Caton, Jack O’Connell, Wunmi Mosaku, Jayme Lawson, Omar Miller e Delroy Lindo, todos impecáveis em seus papeis de habitantes de um Mississippi aterrorizante e que se perdeu nas brumas do tempo.

Também responsável pelos filmes da série Pantera Negra, o roteirista e diretor Ryan Coogler deu início à produção de Pecadores em 2024, por meio de sua produtora, a Proximity Media. Distribuído pela Warner Bros. Pictures, o longa-metragem foi filmado entre abril e julho do ano passado e teve direito a uma produção caprichada, com cenários, figurinos e reconstituição de época primorosos.

Entretanto, ao lado da trama curiosa, o maior ativo do projeto é sua trilha sonora memorável (composta por Ludwig Göransson), que mescla gêneros muito diferentes em uma equação harmônica. Com tantos predicados a seu favor, não é de estranhar que o projeto tenha “arrebentado” nas bilheterias, faturando alto em sua trajetória pelas salas de exibição.

NEGÓCIO ARRISCADO

Tudo começa quando os irmãos gêmeos (e ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial) Smoke e Stack Moore regressam à sua terra natal, o Delta do Mississippi, após uma temporada como “homens de negócios” na Chicago dos anos 1930, dominada pelos gângsteres. Com muito dinheiro nos bolsos (o qual roubaram da Máfia), eles compram uma propriedade local e decidem transformá-la em uma casa noturna só para afrodescendentes. O primo dos irmãos Moore, Sammie, se junta à empreitada, para desespero do pai, um pastor fundamentalista que acredita que o Blues é a música do diabo.

Além de Sammie, alguns artistas locais também embarcam no sonho dos irmãos, incluindo a ex-esposa de Smoke, Annie, e a ex-namorada de Stack, Mary, que nunca perdoou o amado por tê-la abandonado para ir tentar a sorte em Chicago. Às vésperas da inauguração do clube noturno, porém, as coisas começam a ficar estranhas, e o enredo envereda para o sobrenatural. Perseguido por caçadores, Remmick, um vampiro irlandês, de repente cruza o caminho dos protagonistas, provocando uma completa e empolgante reviravolta nas vidas dos personagens.

Na noite de inauguração da casa noturna, o inferno fica solto quando Remmick e alguns de seus seguidores forçam a entrada no bar, atraídos pela música contagiante tocada lá dentro e pela promessa de um banquete de sangue nas altas horas da madrugada. Transformada em vampira por Remmick, Mary seduz Stack e o morde, o que dá início a um verdadeiro pandemônio regado a sustos, violência e situações bizarras que, às vezes, remetem ao clássico Um Drink no Inferno, outra obra magistral sobre vampirismo dirigida por Robert Rodriguez em 1996.

SURPREENDENTE ATÉ O FIM

Em um ano com poucos lançamentos interessantes, Pecadores monopolizou as atenções da imprensa especializada e dos espectadores, mesmo sem uma campanha promocional maciça para divulga-lo. O filme é um daqueles casos em que o êxito se deve mais ao “diz que me diz” do que a verbas cavalares de propaganda – e só isso já é motivo para prestigiar esta despretensiosa obra-prima do diretor Coogler.

No site agregador de críticas Rotten Tomatoes, Pecadores obteve 97% de aprovação em 373 resenhas assinadas por críticos. O consenso geral foi de que a produção é “uma fusão arrebatadora de narrativa visual magistral e música eletrizante”. Em tempo: ao término do filme, espere os créditos rolarem na tela até uma cena bônus crucial para a plena compreensão da história e que revela os destinos de alguns protagonistas do filme. É um desfecho brilhante, à altura de uma produção que, diferentemente da maioria das obras do gênero realizadas nos últimos tempos, nunca deixa de surpreender o espectador.

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