Projetos dos vagões foram assinados pela arquiteta Lucille Amaral

Com propostas diferenciadas, projetos assinados pela arquiteta Lucille Amaral se destacam pelo bom gosto e a originalidade

O que seria do mundo sem a visão dos profissionais de arquitetura e decoração? Com seu olhar estético e feeling para perceber as necessidades das pessoas quanto aos mais diferentes tipos de ambientes, eles sempre nos surpreendem criando espaços tão agradáveis quanto funcionais. E sua “mágica” não se restringe a casas e apartamentos, como se pode notar nos vagões de trem da Serra Verde Express.

Adonai Aires de Arruda Filho, diretor geral da empresa, acredita que, mais do que um simples passeio sobre trilhos, a viagem turística de trem deve ser uma “experiência”. Seguindo à risca esse conceito, a companhia dá atenção especial ao décor dos 36 vagões e litorinas que a empresa opera no Sul e Sudeste do país.

Entre as tendências para esse nicho específico da arquitetura e decoração figuram itens como: modernização de sistemas, uso de energia solar, tecnologia de LED, materiais sustentáveis e grandes janelas e varandas.

Experiência contemplativa

A Serra Verde Express conta com o talento da arquiteta Lucille Amaral para desempenhar esse trabalho. Segundo Adonai Aires de Arruda Filho, a especialista tornou possível o que a empresa almejava. “Um passeio de trem envolve muitas questões, como a gastronomia, o trajeto e a vista da natureza pela janela”, prossegue o diretor geral da companhia. “Mas a decoração, conforto e estrutura são cruciais para tornar a experiência ainda mais contemplativa”.

Desde 2015, Lucille Amaral vem se dedicando a projetos ferroviários. Segundo a arquiteta, o trabalho começa com uma compreensão de qual proposta chegará ao público, assim como dos recursos disponíveis, tempo de execução e temática. “É importante saber realizar a adaptação de forma correta, bem como imprimir a personalidade do carro no momento final”, diz a especialista. “Um exemplo disso foi a concepção do projeto Expresso Classique, uma experiência a bordo do trem que circula dentro da capital paranaense”.

Apelo clássico

Para o projeto citado, foi desenvolvido o “Carro Imperial”, um clássico carro de passageiros que lembra um antigo restaurante da alta sociedade. Assim como em um restaurante, há fluidez entre as mesas e uma presença marcante de objetos e materiais requintados. A arquiteta revela que até os parafusos foram escondidos por acabamentos metálicos dourados que compõem a proposta do design.

O destaque principal do projeto é a presença da madeira maciça acompanhada de aplicações de detalhes em marchetaria, poltronas em couro ou com tecido jacquard estampado e arandelas de cristal adaptadas à tecnologia LED ao longo do carro. Em uma das extremidades, o lounge passa a ideia da entrada de um restaurante e o ambiente é decorado com uma namoradeira em madeira maciça torneada, com o estofado revestido em veludo verde e algumas mesas de apoio em madeira e marchetaria colorida. A parede ao fundo do sofá tem tecido dourado com desenhos de folhagens que harmonizam com os demais elementos.

O vagão seguinte recebeu uma cozinha industrial, na qual são preparadas as refeições servidas em eventos realizados a bordo do trem. Para a concepção e execução do projeto, foi preciso estudar e adaptar os equipamentos de acordo com as necessidades para o funcionamento. “Projetar uma cozinha industrial já não é simples, pois há muitas normas e medidas a serem seguidas, mas adaptar tudo a um antigo carro gerador foi realmente uma conquista”, celebra a arquiteta.

“Pet friendly”

Em um momento no qual o conforto de nossos bichinhos de estimação se tornou uma prioridade, inclusive no que diz respeito à decoração, outro projeto digno de nota assinado pela arquiteta é o dos vagões “pet friendly” da Serra Verde Express. Tanto o carro Bove, do trem que faz o trajeto Curitiba – Morretes, quanto o Anselmo Duarte, que integra a composição do Trem Republicano, no interior de São Paulo, tiveram o layout e materiais de revestimentos pensados para o bem dos passageiros e de seus bichinhos.

“Para esses projetos, busquei perceber em quais situações os pets se sentiam, ou não confortáveis e comecei a desenvolver o layout”, revela Lucille Amaral. “Pensei em espaços familiares, como pequenas salas, onde os tutores pudessem desfrutar de um belo passeio na companhia de seus animais de estimação. Buscamos materiais que fornecessem uma situação ideal a todos os usuários”.

Os vagões “pet friendly” também ganharam piso revestido em laminado melamínico de alta pressão, que impede que as patinhas deslizem com o balanço do trem. Os tecidos são impermeáveis e os bichinhos têm até uma caminha para dormir, que fica embutida no sofá.

Homenagem

Já na Litorina que leva o nome da cidade de Curitiba, um elemento marcante são os estofados de chenille no tom verde, que fazem referência às nossas matas, assim como o couro marrom das poltronas remete à cor do pinhão e o amadeirado do piso representa a araucária.

Tachinhas douradas no teto revestido em couro branco desenham o pinhão e a erva mate, produtos fundamentais e importantes no desenvolvimento da economia do município. Mármore branco retroiluminado foi utilizado nos sanitários, compondo com as demais paredes, que são revestidas por espelho bronze.

Por fim, no carro Barão do Serro Azul, a arquiteta fez uma homenagem ao ilustre personagem da história brasileira que viveu entre 1849 e 1894, época da transição do período neoclássico para o eclético. “Com base nas análises e diversas pesquisas, percebi o quanto ele era pioneiro e concluí que não cabia idealizar um carro com característica arquitetônica da época, e sim, algo moderno e impactante”, recorda a arquiteta. “Assim, assumimos o desafio de criar a maior varanda em um carro de passageiros no país, além de janelas amplas para a contemplação da natureza, materiais sustentáveis, energia solar, iluminação por LED e vidro curvo”.