Conceito de morar após a pandemia

Especialistas do escritório Dávila Arquitetura explicam o que deverá mudar em nossas residências após o fim da quarentena

Por Redação Fotos Divulgação e Shutterstock.com (por Bisual Photo)

O termo “novo normal” tem sido utilizado com frequência desde que a pandemia de Covid-19 começou. Aparentemente, as atuais normas de distanciamento social terão um impacto duradouro em nossas vidas no futuro, nos forçando a rever antigos hábitos e conceitos e adotando um novo modelo de comportamento nos próximos anos. Os arquitetos Alberto Dávila, Afonso Walace e Cadu Rocha, do escritório Dávila Arquitetura, acreditam que o atual momento dá margem ao surgimento de uma nova arquitetura residencial, coerente com o aprendizado que tiramos da pandemia.

“Como uma pincelada inicial nos impactos que este tema trouxe para nossa forma de projetar, imaginamos três premissas principais para explorar as potencialidades das novas residências, evoluídas para o século XXI, pós-pandemia: aproveitar melhor a natureza; valorizar a higiene; e viabilizar o trabalho. Tudo pensando na saúde, bem-estar e sucesso profissional dos moradores”, afirmam os especialistas.

Solários

A questão do melhor aproveitamento da natureza vai de encontro à tendência irreversível da sustentabilidade, além de ser favorável ao bem-estar das pessoas. A incidência solar e a ventilação natural, especialmente, são exemplos dos proveitos que podemos obter, gratuitamente, causando um impacto mínimo no meio ambiente. Assim, é muito provável que os antigos solários voltem a ter espaço nas residências, assegurando que possamos tomar sol mesmo quando estivermos em casa. 

“O sol é um ‘desinfetante’ natural e poderoso, que pode atuar como coadjuvante na esterilização de roupas e objetos”, prosseguem os arquitetos. “A ventilação natural, se possível cruzada (janelas em lados opostos da planta do apartamento, para favorecer a circulação de ar) é imensamente mais benéfica do que a artificial ou condicionada, ainda mais que esta última corre o risco de acumular germes. Para a ventilação natural, janelas, venezianas e basculantes fazem seu papel”.

Espaços verdes

Atuando em favor do psicológico dos moradores, o verde também será bem-vindo nas residências. “A cor verde, por si, já traz tranquilidade, especialmente em tons mais suaves, mas podemos expandir bastante este conceito, trazendo, literalmente, vegetação, ou espaços-verdes para dentro das casas e, principalmente, apartamentos, onde não são tão comuns”, destacam os arquitetos. Para fins de higiene, pode ser interessante ter um lavabo bem próximo à área de refeição. Isto é importante para lembrar e estimular as pessoas a lavar as mãos antes de comer, o que evita a contaminação dos alimentos.

Veja os novos conceitos para mudar na sua residência após a pandemia

Outro cuidado diz respeito aos objetos que trazemos da rua (incluindo as compras de supermercado), que costumamos submeter a uma “mini-quarentena” nesses tempos de pandemia. Os arquitetos sugerem que seria interessante as moradias terem uma despensa, armário ou bancada específicos para a disposição destes itens, enquanto aguardam a desinfecção.

“É importante que este espaço resista a produtos químicos como álcool, água sanitária e desinfetantes, ou até mesmo gases como o ozônio (sobre o qual há notícias de que pode ser um eficiente desinfetante natural)”, acrescentam os arquitetos da Dávila. 

Os espaços para depositar os sapatos podem ficar dispostos em estantes ou sapateiras apropriadas à entrada da residência. Os arquitetos explicam que um lado bastante positivo desta prática de não se entrar com os sapatos em casa é que os pisos internos da residência podem ser pensados para serem mais confortáveis e delicados, uma vez que dispensarão uma limpeza pesada, por não estarem sendo contaminados e sujos cotidianamente.

Soluções combinadas

Alberto Dávila, Afonso Walace e Cadu Rocha também citam um dos grandes desafios que a pandemia impôs: a necessidade de trabalhar remotamente. Ao que tudo indica, o home office veio para ficar. E, de acordo com os profissionais, uma das grandes dificuldades deste tipo de trabalho é justamente o fato de estarmos em casa.  

“Com a integração de espaços, os ambientes de uso único foram sendo eliminados em favor de uma maior interatividade entre os usos”, afirmam os especialistas. “Isto não necessariamente favorece o trabalho quando temos que fazê-lo em casa. A solução talvez esteja em escritórios mais próximos à entrada da residência, talvez com entrada independente – como acontecia em casas desde o período colonial brasileiro, até meados do século XX.

Se há mais de um morador que precise trabalhar remotamente, deve existir uma combinação de soluções: quem precisa de algum contato externo ou uma estrutura mais bem montada, fica com o escritório oficial. Os demais teriam escritórios opcionais instalados em outros espaços da residência”.

Multihall

No projetado elaborado pelos profissionais, eles incorporaram ideias bastante interessantes, ainda não vistas em outros lugares, como o que eles chamam de “Multihall”, um vestíbulo privado da residência que integra tudo na casa, incluindo o escritório independente para home office, que é conversível à suíte.

“O Multihall dispõe de um lavabo completo, que é, ao mesmo tempo, o banheiro do escritório/suíte. Este é o espaço de desinfecção, troca de sapatos, roupas e quarentena de objetos. Pensamos em um jogo de portas que deslizam e que revelam um aparador, o que faria o Multihall parecer um lavabo comum, mas que movimentadas, revelam os equipamentos para higiene, desinfecção e armários e estantes para guardar a tralha toda. E movimentadas, estas portas também revelam o setor social da casa. Enfim, tentamos fugir do óbvio e do lugar comum”, concluem os arquitetos.