Uma boa comunicação entre arquiteto e cliente é fundamental para que um projeto de interiores cumpra o que dele se espera
Não há uma única fórmula que defina um lar aconchegante, bonito e funcional. Isso porque o conceito de “lar perfeito” varia de pessoa para pessoa. Ao encararem a missão de criar ambientes que agradem em cheio à suas clientelas, os arquitetos e designers de interiores necessitam de uma boa comunicação com os proprietários das residências para atenderem às suas expectativas.
Rosangela Pena, arquiteta à frente do escritório que leva seu nome, conhece muito bem esse processo. “Buscamos traduzir as demandas em espaços que sejam funcionais, sustentáveis e visualmente atraentes, sempre equilibrando aspectos práticos e emocionais”, conta a profissional. Ela ainda ressalta que o relacionamento com diferentes tipos de clientes é um dos maiores desafios para um arquiteto. Cada um traz consigo um conjunto único de expectativas e desejos que refletem preferências estéticas, estilo de vida e objetivos pessoais.
Além disso, é comum que surjam requisições inusitadas como a concepção de espaços multifuncionais, inclusão de ambientes temáticos ou até áreas de entretenimento específicas, como salas de música ou cinemas domésticos. “Algumas requisições se destacam pela originalidade e um dos mais diferentes que já recebi, embora não tenha sido executado, foi um local específico para abrigar uma cobra”, acrescenta a especialista.
DESAFIOS
Há situações em que a solicitação do proprietário não é compatível com as questões técnicas do imóvel, o que amplia o grau de dificuldade para uma reforma. Segundo Rosangela, algo que parece muito simples, como a remoção de uma parede, pode esbarrar na existência de colunas, sua composição estrutural ou instalações fixas. “Com isso, sempre aparece uma frustração, mas sou muito transparente com os motivos e o cliente nos compreende, pois trazemos uma nova possibilidade”, diz a profissional.
Em uma cobertura que seu escritório reformou no litoral de São Paulo, ela relata que a cliente almejava a ampliação da área gourmet e a reforma de uma escada íngreme, que se tornou o “x” da questão: por haver uma viga invertida, que dificultava a modificação da escada, Rosangela contornou o problema ao perceber que a altura do contrapiso da laje superior permitia a adição de um degrau.
PRAZOS
Ao longo da carreira, a arquiteta se deparou com as mais diversas demandas no tocante às expectativas dos clientes. Segundo Rosangela, é comum se deparar com solicitações aparentemente impossíveis, seja pelas limitações de espaço, técnicas ou de orçamento. Mas é exatamente nessas ocasiões que o conhecimento técnico e a inventividade entram em cena.
“Na área social de uma cobertura, o cliente pediu uma adega climatizada onde o espaço era limitado”, exemplifica a especialista. “No estudo do layout, optei por diminuir o lavabo que ficava embaixo da escada e assim determinamos um encaixe perfeito para a adega”. Enquanto viabilizam os sonhos de seus clientes, os arquitetos também correm contra o tempo para finalizarem os trabalhos dentro do prazo estipulado, o que nem sempre é fácil. Para isso, é importante exercer uma coordenação eficaz da mão de obra, processos e uma gestão dos prazos precisa. “Trabalhar com o cronômetro acionado requer habilidades técnicas, resiliência e adaptação rápida para lidar com imprevistos”, observa Rosangela.
No projeto de uma clínica, a arquiteta foi incumbida de providenciar uma reforma em apenas um mês, já que as atividades do consultório não podiam ser interrompidas durante muito tempo. A arquiteta conta que, nesse caso, adotou-se uma estratégia mais rigorosa para que a equipe tivesse um maior controle do cronograma.
ALTERNATIVAS
Embora grandes dificuldades possam surgir ao longo dos trabalhos, bons profissionais têm a capacidade de contornar as adversidades com inteligência e criatividade. Houve uma ocasião, por exemplo, em que a arquiteta precisou administrar o sonho de um piso de madeira na varanda. Ao explicar que o material não era o mais apropriado para o local por conta da exposição ao sol e umidade, uma vez que essas intempéries interferem na durabilidade, a adoção do porcelanato com as características do elemento natural foi muito bem aceita pelo cliente.
Ainda assim, pode haver situações em que é simplesmente impossível atender às demandas do projeto. Nesse sentido, a questão da segurança sempre deve ser prioritária. A arquiteta é enfática no esclarecimento dos riscos envolvidos e já apresenta propostas sólidas que mantém, em primeiro lugar, a integridade física da edificação e dos usuários.